quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quando passámos para Luanda, como batalhão de intervenção às ordens do comando chefe, naturalmente não achámos graça nenhuma porque embora nos intervalos de guerra estivéssemos aquartelados no Grafanil, pertíssimo de Luanda naquela altura e hoje no meio da cidade, era suposto que quando fizéssemos guerra esta seria mais à séria do que tinha sido no Mucondo. Foi assim que a notícia de irmos fazer uma operação com os mauzões dos comandos num ponto do Norte de Angola não foi nada agradável de receber. O plano era nós sermos o cerco e eles os atacantes e por isso nós seríamos colocados de helicóptero Puma (que transportava mais de vinte militares) num ponto a novecentos metros de altura. Para o efeito o meu pelotão foi reforçado com nove soldados oriundos dos flechas, coisa que me deu uma enorme satisfação porque os flechas tinham fama de serem óptimos guerreiros e eu pensei que isso era uma protecção adicional para a enorme guerra que se aproximava. O chefe dos flechas era um tal Lourenço, creio que Cabinda mas não tenho a certeza. No dia aprazado lá fomos para o aeroporto militar e embarcámos no enorme Puma que pela primeira vez todos nós experimentávamos. O Lourenço ficou sentado ao meu lado esquerdo em frente à porta lateral. Fechada esta as enormes pás do monstro puseram-se em funcionamento e quando no meio de um barulhão enorme o passarão começa a levantar o Lourenço encostou a cabeça dele ao meu ombro e, com voz assustada diz :– ai meu alferes o que vai ser de nós! Imaginem o estado de espírito em que fiquei pensando: e são estes heróis que nos vão dar segurança? Chegados ao ponto de desembarque lembro ainda que o piloto, que experimentava ainda aquele tipo de helicópteros, queria por força que nós nos atirássemos para o chão de uma altura incrível, coisa que não sucedeu. Apenas quando poisaram mesmo é que desembarcámos. E lá ficámos, no tal morro a novecentos metros, sem que nada se tivesse passado até nos virem buscar uns dias depois e beneficiando de uma absolutamente espectacular paisagem de pôr e nascer de sol, que ainda hoje tenho na retina, e que penso o Gonçalves registou com a sua excelente máquina.

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