quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Para além da rotina do ir à água, à lenha, a Santa Eulália a nossa grande preocupação eram as operações que se sucederam a um ritmo regular. Raramente estávamos descansados. No final, feita a contabilidade, creio que eu participei em cerca de trinta e seis operações. Dormi no mato quase cento e quarenta noites das quais lembro duas em especial. Uma em que choveu como só em África chove, trovejou como também só em África acontece e eu, refugiado numa tenda manhosa, apesar das condições meteorológicas completamente desgraçadas tive que, à pressa, sair do abrigo precário e despir-me totalmente para dar cabo das terríveis enormes formigas que me mordiam em filas sucessivas. Conseguido isso nunca mais tive direito à bisnaga de leite condensado da ração de combate porque a destinava às formigas. Antes de adormecer na mata, a uma distância razoável de mim, despejava a bisnaga que alimentaria as formigas, dispensando as minhas pernas e partes íntimas de as alimentar! A segunda noite inesquecível tem a ver com uma “apanhada”. Sobre os apanhados escreverei noutro post mas aqui lembro que numa qualquer operação apanhámos à mão uma professora de português da escola da mata, chamada Teresa. Tínhamos também feito a selvajaria de destruir as lavras do ponto onde ela foi apanhada. Chorou toda a noite e lembro a enorme vergonha que senti quando sendo lhe dito que nada lhe aconteceria ela respondeu com enorme dignidade, e com grande beleza, que nós éramos uns selvagens que destruíamos as lavras que dariam de comer às pessoas etc. etc

Sem comentários:

Enviar um comentário