sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Louco Amor

Que a guerra nos roubou, a todos, dois anos da nossa juventude, toda a gente sabe. Que fez milhares de mortos, mutilados e outras formas de invalidez, também.
Mas, talvez, nem todos saibam que muitas vidas foram silenciosamente destroçadas e que camaradas de armas sofreram em silêncio o "mal de amor", que é o sentirem-se trocados, substituídos por outros enquanto cumpriam o seu dever.
O poema que vos deixo hoje, tenta retratar um soldado que na primeira carta que recebeu do pai, este lhe comunicava que a mulher tinha fugido com outro para o Algarve.
Desabafou dizendo: Mas que posso eu fazer?... É a mulher que eu amo, é a mulher com quem casei, é a mãe do meu filho!... E o pior é que continuo a gostar dela!...
Que posso eu fazer, meu Deus?
Também nunca encontrei a solução para o problema dele, mas nunca consegui esquecer e passei para este poema, Louco Amor, o que me pareceu ser, de facto, um louco amor.
Não sei se consegui.
Resta dizer que este poema também foi traduzido para castelhano e editado pelo Centro de Estudios Poeticos de Madrid, na antologia Eclipse de Luna.

Louco Amor

Por quem me perdi d'amores
Não vive mais em meu peito
Deixou meu coração desfeito
A sofrer terríveis dores.
Mas vejam bem, meus senhores
A grande fatalidade
Para dizer a verdade
É que queira eu ou não
Sinto no meu coração
Uma enorme saudade.

De tudo o que não vivi
De um amor que acabou
E de tudo o que ficou
Para lá de mim e de ti.
Das mágoas que eu senti
Dos beijos que nunca dei
Da má vida que passei
D'amores jamais vividos
Que por ter cinco sentidos
Nunca mais esquecerei.

José Diogo Júnior

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