quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Na prática o terceiro pelotão embora com três secções, funcionou, tanto quanto me possa lembrar, apenas na base da primeira e segunda secção, comandadas pelo Justino e pelo Gonçalves, funcionando a terceira secção como reforço das duas primeiras. Duas funções principais de rotina que se estabeleceram logo de início só acabariam no fim da nossa comissão: – a progressão a pé e em coluna. A pé, pela mata fora, o Justino, ou o Gonçalves, armados de bússola na mão e entre o terceiro e o quarto lugar, mais ou menos, mantinham o Norte, enquanto o pessoal das respectivas secções se revezavam na catana, abrindo caminho. Contando sete a nove nomes integrava-me eu na coluna apeada, com o enfermeiro, o transmissões e o pomposamente chamado guarda-costas. A minha função de rotina era a de, com o mapa na mão, tentar manter-me informado da posição em que nos encontrávamos (não existia GPS!) para, mais ou menos hora a hora, transmitir para o comando (Leão, Leão, as nossas coordenadas são trálá, trálálá). No meio da mata só era possível saber a posição na condição de o Norte (ou Sul fosse qual fosse a direcção estabelecida) ser mantido e se eu não me enganasse na contagem das linhas de água que íamos atravessando, quando não as seguíamos. Um dia, ao terceiro e último dia de uma operação puxadíssima e após mais de dez horas de caminhada pela densa mata, subindo e descendo, o Justino chegou ao pé de mim e disse-me que estava tudo estafado e que era preferível dormir ali mesmo do que avançar até à picada onde os unimogs nos esperavam. Pela minha contagem de linhas de água estaríamos a uns quinhentos metros da tal picada. Mas ter a certeza absoluta? E face ao evidente estafanço da tropa como tirá-la do chão onde tínhamos momentaneamente parado? De modo que lá se ligou ao “Leão, Leão: pede-se autorização para pernoitar mais uma noite. Resposta: diga onde se encontra. Coordenadas tal e tal. Resposta: Avance imediatamente para a picada. Como se atreve a fazer tal pedido? Não pude explicar que embora na minha conta fossem quinhentos metros, sabia lá se não seriam três kilómetros. Felizmente não eram quinhentos metros: os unimogs estavam a uns duzentos metros, do outro lado da base do morro onde tínhamos parado!
A lição que tirei é que há alturas em que a nossa autoridade se esgota e, sob pena de uma revolta, precisa de ser apoiada por uma força superior.
Amanhã ou depois escrevo sobre a progressão em coluna.

1 comentário:

  1. Caro João Vieira
    A memória é boa, mas o Leão era Tigre,não havia
    GPS e muito menos Telemóvel,vou aproveitar este
    comentário para louvar aqueles que tinham de
    carregar com o rádio.
    Só eram lembrados quando as coisas corriam mal.

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