segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Faz hoje 42 anos...

...que vivíamos este dia de passagem de ano de uma forma alegremente triste. Longe das famílias, procurávamos disfarçar a saudade com um sorriso para a fotografia. Sim, para a fotografia porque, se atentarmos nos olhares de cada um, facilmente constatamos que se tratam de olhares de incerteza no futuro. No momento, festejava-se a passagem de ano, mas ainda faltavam muitos meses, dias, horas, segundos, para sobrevivermos à guerra e voltarmos. O que nem sempre aconteceu...
Foto cedida pelo Soldado Sabido Simões, do 3º Grupo de Combate da CCav2692
(passagem de ano 1970-1971, no Mucondo)

Votos de bom ano de 2013. E que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos não conheçam a dureza e a insensatez da guerra, seja ela denominada justa ou injusta. Porque não há violência justa. E que saibam apreciar - e preservar - os valores da paz e da justiça, essenciais à dignidade humana.

António Gonçalves

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal de todos e para todos

Prestes a chegar mais um Natal, gostaria de desejar um uns dias de convivio familiar
e que sejam cheios de saude já que neste momento ter saude já é ser rico.
                                                                                                    GOMES

domingo, 23 de dezembro de 2012

Boas Festas

Nesta época festiva não há muito tempo para dedicar ao blogue.
Por outro lado, há muitas pessoas que vão para fora e deixam de prestar atenção a este local.
Por isso, da parte que me cabe, vou interromper as publicações, esperando regressar em meados de Janeiro de 2013.
Guardo uma sentida continência a todos os que já nos deixaram fisicamente mas que se mantêm na nossa memória.

Boas Festas. Feliz Natal e um Ano Novo de 2013 com mais esperança.

Um abraço deste vosso camarada,

António Gonçalves (Furriel da 2ª Secção do 3º Grupo de Combate da CCav 2692)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A memória é de todos


Ontem, em conversa com um camarada, foi-me dito que talvez haja camaradas que gostariam de participar e inserir textos ou imagens mas receiam "interromper" a série da história do Batalhão.
Que fique claro: este blogue é de todos os que viveram a guerra no Batalhão 2909 ou a ele ligados e dos seus familiares.
"Interrompam" à vontade. Quanto mais escreverem e quantas mais imagens forem inseridas mais substancial fica este blogue e, em consequência, a história que todos vivemos de forma intensa.
A memória é de todos.
Participem.
Se não estiverem registados como autores, enviem o vosso endereço eletrónico para o endereço eletrónico do blogue e eu tratarei de vos enviar o respetivo convite.
Um abraço,
António Gonçalves

domingo, 16 de dezembro de 2012

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0007)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

GENERALIDADES
Os partidos dominantes na ZA do Subsector “ZBA” são a FNLA e o MPLA.
A FNLA domina todo o Subsector com excepção do canto SW, dominado pelo MPLA (Zona A/IRM), cujo limite E se pode considerar o rio Boqui.

ORGANIZAÇÃO CIVIL E MILITAR

FNLA:

Organização militar (ELNA)
A organização militar está assente nas seguintes bases:
1. Comando regional
            - Depende directamente do COA (Comando Operacional de Angola)
            - Existe um em cada concelho (Divisão Administrativa anterior ao terrorismo)
            - Tem, em princípio, tantas “centrais” como os antigos Postos Administrativos
            - Funciona junto da “central” do Posto Sede, mas por enquanto ainda se pode considerar em                formação, admitindo-se que a intenção do In seja a de vir a ser constituído por elementos de                várias centrais
            - Actualmente apenas está propriamente em funções o comandante que acumula com o                comando da “Central” do Posto Sede
2. Comando Sub-regional, Unidade ou Central
            - Existe um em cada Posto Administrativo
            - Cada Central pode ter normalmente 3 “quartéis”
3. Quartel
            - Domina vários povos
            - Em cada povo existe uma “Secção”
            - Os “quartéis” são numerados e tomam o nome do povo junto do qual estão instalados
4. Secção
            - Há uma “Secção” por cada povo do qual toma o nome
            - Tem tantas “Sub-secções” quantas as sub-divisões do povo
5. “Sub-secção”
            - Uma por cada parte em que está dividido o povo

Organização civil (GRAE)

1. Em cada área correspondente a um Comando Sub-regional está organizada uma Comissão Civil ou Comissão Política com a constituição seguinte:
            - Presidente
            - Vice-presidente
            - Conselheiro
            -Secretário
            - 2 Delegados: 1 está em Angola o outro no Congo, revezando-se neste serviço em Angola
            - Comité: 1 em cada povo com o lugar correspondente ao antigo “Soba” ou “Sobeta”
            - Adjunto do Comité: ajuda o Comité e substitui-o no seu impedimento
            - Recebedores (Cobradores): procedem à cobrança de alimentos e outros    artigos destinados aos militares.

2. Há ainda junto de cada Comissão Política um Corpo constituído pelos Comités   e velhos por estes escolhidos (incluindo mulheres). Reúne, quer na altura das conferências, quer para discutir problemas de interesse local.

3. O Presidente dentro da sua área é mais importante que o Comandante da “Central”, visto que é o representante da GRAE (Governo).

4. As ligações entre as partes civis e a militar são apenas ao nível Presidente-Comandante da Central.
    Recorrem ao Comando Regional quando surgem dissidências ou quaisquer assuntos importantes que não forem capazes de resolver.
    Assim, ao nível Comando Regional, parece que a parte militar se passa a sobrepor à civil, visto não terem criadas Comissões Políticas ao nível Comando Regional.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

HISTÓRIA DO BCAV 2909 - INTERVALO

Caros camaradas
Devido a afazeres pessoais, tenho de interromper temporariamente a publicação de "capítulos" sobre a história da Unidade.
Prevejo que no final da próxima semana volte à publicação.
Um abraço a todos,
António Gonçalves

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0006)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

TERRENO

AERÓDROMOS E PISTAS DE ATERRAGEM
Zemba, Mucondo e Cambamba dispõem de pistas de aterragem utilizáveis por aviões tipo DO-27 e Auster.
Em Santa Eulália existe uma pista que permite a aterragem de Nord’Atlas e de T-6.
As pistas de aterragem ficam junto aos aquartelamentos com ecepção da pista de Cambamba, que dista deste cerca de três quilómetros.
As características principais das pistas de aterragem são as seguintes:
Pista de Zemba:
Localização: 143730.080600
Altitude: 810 m
Comprimento: 650 m
Largura: 30 m
Pavimento: laterite
A placa para helicópteros localiza-se na própria pista
Pista de Mucondo:
Localização: 143230.081420
Altitude: 800 m
Comprimento: 600 m
Largura: 30 m
Pavimento: terra batida
A placa para helicópteros localiza-se na própria pista
Pista de Cambamba:
Localização: 144600.080930
Altitude 830 m
Comprimento: 600 m
Largura: 23 m
Pavimento: terra batida
A placa para helicópteros tem 100 m de comprimento, sendo o pavimento argiloso
Além destas pistas que servem directamente os aquartelamentos das NT ainda existem na área do Mucondo quatro pistas particulares, na fazenda São Paulo (1438.0815), no Quicunzo (142840.081130), na fazenda Bombo (1431.0813) e na fazenda Caiado (1437.0817). A única pista onde existe combustível para aviões e helicópteros é em Santa Eulália.

POVOAÇÕES
No Subsector ZBA existe apenas uma povoação: Cambamba.
Era uma povoação comercial de pequena importância, sede de um posto administrativo do concelho de Quitexe, do distrito de Uíge.
Foi completamente destruída, vítima do terrorismo, mas está a ressurgir a cerca de 1 km mais a sul da zona que ocupava.
O novo local foi condicionado pela utilização do aquartelamento pelas NT. Tem construída a residência do Administrador, Enfermaria, 2 casas comerciais e 2 sanzalas com cerca de 900 habitantes.

PORTOS E PASSAGENS
Durante a época das chuvas o Suége e o Luica requerem cuidadosespeciais para a sua passagem, mas com auxílio dos meios locais, árvores, acabam sempre por se poderem passar.
O Dange é muito difícil na época das chuvas e mesmo no cacimbo só dá passagem em alguns locais.

CONCLUSÃO (da análise da situação do terreno)
As condições meteorológicas, conjugadas com o terreno, dificultam a acção das NT, em especial durante a época das chuvas.
A época mais favorável para as NT realizarem operações é a do cacimbo, principalmente a partir de meados de Julho, depois de serem feitas as queimadas.
O Subsector ZBA favorece extraordinariamente o In devido ao seu relevo, hidrografia, vegetação e insuficientes vias de comunicação, obrigando as NT a grandes esforços para cumprirem as diversas missões que lhe são confiadas.
Da apreciação conjunta das condições meteorológicas e do terreno e sua influência sobre a actuação do In e das NT salientam-se os seguintes aspectos.

Zonas importantes de concentração In
- Região Mufuque – Candende, a S de Zemba, compreendida entre os rios Suége  e Zungo.
- Curso superior do rio Suége.
- Região a N de Zemba.
- Região a SW de Mucondo, envolvendo os cursos médio e superior dos rios  Lulumba e Bóqui.
- Antiga região de Fula-Mucondo, a SE de Mucondo, compreendida entre o rio Luica e a picada ponte   do Dange-Mucondo.
- Curso superior do rio Luica.

Observação e campos de tiro
A observação terrestre e os campos de tiro são muito reduzidos devido à grande densidade de vegetação existente no Subsector.
A observação aérea, limitada também pelas matas e pelo capim, é bastante prejudicada pelas condições de nebulosidade e visibilidade que, normalmente, são más durante as tardes, na época das chuvas e durante as manhãs na época do cacimbo e que, por vezes, chegam igualmente a prejudicar a observação terrestre.
O número elevado de morros dominantes permite ao In manter uma eficiente rede de postos de observação e vigilância, tanto perto como afastados dos seus acampamentos e “quartéis” e ainda orientar alguns desses postos de vigilância sobre os estacionamentos da NT e sobre os itinerários que estas mais frequentemente percorrem.

Obstáculos
Quase todos os rios importantes existentes na ZA se podem considerar grandes obstáculos, em especial durante a época das chuvas.
Destacam-se no entanto os rios Suége, Cácua e Lulumba, que constituem obstáculos para os movimentos realizados no sentido E-W e os rios Lifune e Luica quando os movimentos se realizam no sentido N-S.

Cobertos e abrigos
As numerosas matas existente na ZA constituem óptimos cobertos para pessoas, e abrigos para a instalação dos acampamentos e “quartéis” In.
O capim, desde meados da época das chuvas, até meados de Julho, quando se fazem as queimadas, constitui um óptimo coberto para pessoas chegando, por vezes, a furtar à observação aérea os próprios trilhos utilizados pelos elementos In nas suas deslocações.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)