domingo, 19 de junho de 2011

Circular

No almoço anual do passado dia 28 de Maio, no Crato, tive oportunidade de entregar um folheto sobre este nosso blogue.
Na semana passada, via CTT, enviei o folheto aos camaradas que, por um motivo ou outro, não puderam estar presentes. Não foi possível enviar a todos porque não disponho da morada de alguns.
Para já, transcrevo aqui a circular que enviei (enviei duas versões, mas como pouco diferem, transcreverei o texto mais recente), para conhecimento também dos que foram ao almoço:

Caro camarada.

Junto envio um folheto alusivo ao blogue que criei, destinado ao registo e à partilha das recordações e opiniões da época que marcou a nossa juventude e a de outros milhares de jovens.

A guerra juntou-nos, a vida tem-nos separado, os almoços juntam-nos em cada ano, este blogue pode unir-nos em cada dia.

Todos temos nem que seja uma história para contar. História que mais ninguém viveu.

Cabe-nos assinalar o registo da nossa vida ou deixá-la cair – ingloriamente – no esquecimento.

Cabe-te a ti a decisão de avivar a memória do colectivo português ou deixá-la adormecida.

Se não tens registo de endereço na net, nem queres por os teus filhos a fazer esse trabalho, podes enviar-me textos e /ou imagens, que eu tratarei de os inserir sob o teu nome, podendo fazer qualquer eventual correcção sem alterar o sentido do texto.

Para qualquer esclarecimento adicional, podes contactar-me directamente para o meu telemóvel (...) .

Este folheto foi entregue pessoalmente a todos os camaradas que participaram no almoço convívio no Crato, no passado dia 28 de Maio.

Um abraço,

(ex-furriel) Gonçalves – 3º pelotão, 2ª secção

Junho de 2011


Aqui fica a transcrição.

Um abraço,
António Gonçalves

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"O seu a seu dono"

Esclarecimento.

Durante o encontro no Crato tive a oportunidade de trocar algumas palavras com o Taxa Araújo sobre o blogue e para surpresa minha fui alertado para a possibilidade de ter faltado à verdade no que diz respeito à rotação do batalhão.

No capítulo 15º , das minhas crónicas “Como eu Entrei na Guerra”, que intitulei da “rotação do descontentamento” eu escrevi, a seguir à citação das palavras proferidas pelo nosso comandante Duarte Silva, o seguinte:

“De encontro a que sentimentos? Quem é que nos ouviu ou se importou com a nossa vontade? Que tristeza…"

Ao que parece e segundo os esclarecimentos que entretanto pedi e que recebi, (embora ainda me falte os do Dias)não tenho qualquer problema em retirar o parágrafo anterior pois acredito que de facto alguns dos responsáveis da c.cav. 2692 foram ouvidos.

Eu não fui e nem fui incumbido de consultar os homens que estavam sob a minha responsabilidade directa (mecânicos e condutores).

Terá sido uma falha do sistema ou do organigrama, pois o único alferes mecânico que havia no batalhão pertencia à CCS e, por conseguinte, seria eu a participar na reunião que, não duvido, se terá efectuado na companhia.

E ainda bem que não estive ,pois tendo em conta a minha irreverência de certeza que não ficaria calado em função da forma como o comandante aterra no Mucondo para, em ar de gozo, nos comunicar que tinha aceite a intervenção.

E logo ao Mucondo. Vem de Luanda do Q.G. e a primeira escala que faz é logo na companhia que se opôs ao destino, que possivelmente já estava escolhido.

Resta alguma dúvida de que com tal atitude apenas pretendeu meter na linha o único capitão e os homens, que tiveram a coragem de desalinhar?

Termino com um esclarecimento.

Para mim “Os senhores da Guerra” não são os comandantes de batalhão, de companhia ou de pelotão.

Esses quanto muito eram na altura também carne pra canhão de 1ª, de 2ª ou 3ªcategoria. Nós os sargentos talvez de 4ª e os soldados nem categoria tinham, eram simplesmente carne pra canhão.

Desculpem a minha frontalidade, mas pese a idade as coisas que me marcaram profundamente eu não esqueço.

Esta não é apenas a minha versão, é a verdade do que se passou comigo. Outros terão a sua verdade que eu nem sequer me atrevo a contestar.

Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico da C.Cav. 2692









O Gomes tem razão no que diz. Mais do que a praia paradisíaca com que eu sonhava, do que se falava com enorme insistência era na fazenda Tentativa que para quase todos estava "no papo"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

historias da nossa guerra

Depois de ter lido a prosa dos maia recentes escritores verifico que o mote é o mesmo,eu tenho
a minha versão que é ligeiramente diferente. Todos devem recordar a tão falada Fazenda Ten-
tativa que não sendo o paraiso era o mal menor. O Taxa pensava que realmente íriamos para
lá,tanto assim era que a certa altura chegou ao Mucondo uma encomenda vinda da C.Cav 2691
como prémio de consolação (gozo do Cuco Rosa). O Taxa ficou de tal modo chateado que mandou
fazer em Massa de pão um daqueles decorativos das caldas enviando por sua vez ao remetente
com a dedicatória respectiva.
Portanto em relação a este assunto penso que o balde de agua fria apanhou a totalidade da Com.
incluindo o seu Comandante.

P.S.- Foi realmente uma boa operação esta no Crato,foi pena haver tantos desenfiados.
Um abaço para todos presentes e ausentes.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

CRATO 2011! MONTEMOR-O-NOVO 2012!

Sinto-me na obrigação de manifestar o meu regozijo pela forma como decorreu o almoço anual do passado dia 28 de Maio, no Crato.
Dou os meus parabéns ao Batista, pois sei que não é nada fácil organizar um evento destes, de mais a mais sem qualquer ajuda, sobrecarregando dessa forma os familiares. Achei piada à lembrança da caneca com o emblema da Companhia e sobretudo ao "miminho" do chapéu em miniatura tricotado de modelo idêntico ao das ceifeiras. Se não estou em erro, o Batista disse que tinha sido a sua mulher a fazer os chapéus. Pois então, permitam-me que, como se costuma dizer, tire o chapéu ao trabalho dedicado da senhora.
Gostei, como é natural, de rever muitos camaradas. Mas tenho que realçar o João Vieira, o meu alferes do 3º pelotão, e o Justino, meu camarada/irmão de armas, com quem nunca mais me tinha cruzado, com grande pena minha.
Não estou muito de acordo com o Vieira. Ele não deve ter reparado bem. É que eu também estou com cabelos esbranquiçados, um pouco para o gordinho e o Justino, apesar de a tonalidade do seu cabelo estar um tanto "disfarçada" por ser alourado, nota-se que também tem uns pelinhos esbranquiçados. Não está gordo, embora já não consiga esconder uma barriguinha em crescimento. Mas "evoluídos" pela passagem dos anos estamos todos, uns mais que outros, ninguém tem já os vinte anos com que foi passar os costados pela guerra.
Momento de alguma emoção foi o da leitura, pelo (alferes) Carlos Dias de uma mensagem do (alferes) Chaves que, por estar a atravessar um momento de fragilidade na sua saúde, não esteve presente. Certamente nos reveremos no próximo ano, já completamente recuperado.
Também fiquei agradado por saber que, apesar de ainda não se decidirem a participar, há muita gente a visitar o blogue. Foi uma surpresa para mim. Agora, é só dar um passinho e passar a deitar cá para fora as recordações (que também verifiquei se vão diluindo, pensei que era só eu que já não me lembrava de muita coisa, mas é geral, os anos não perdoam e talvez o próprio organismo, numa postura de defesa, vá apagando certas memórias, porventura mais incómodas ou dolorosas).
Agora esperemos pelo próximo almoço. Que será a 26 de Maio de 2012, em Montemor-o-Novo, da responsabilidade do nosso camarada (furriel) Pinho. O tal da ferrugem. Espero sinceramente que os grelhados não sejam feitos em gasolina e que o vinho não tenha a limalha que recheava alguns jerricans de onde bebemos alguma água acastanhada pela ferrugem, nos momentos em que a sede secava tanto que éramos capazes de engolir qualquer coisa desde que fosse líquida...
Já agora permitam uma achega. Nas várias conversas trocadas, ficou evidente que a guerra não teve a mesma interpretação por cada um de nós (ou mesmo pelas famílias). Todos vemos a guerra (como qualquer outro acontecimento na vida) pelo nosso prisma. A nossa apreciação das coisas é naturalmente subjetiva, o que pode ocasionar interpretações ligeiramente diferentes. Mas é isso que é importante para o blogue. Se todos pensássemos da mesma maneira isto era uma pasmaceira. O que interessa é que contemos a verdade. A forma como a verdade aconteceu já é uma interpretação de cada um. Esta questão da forma como se passou a ida para a intervenção (e não para as praias de Sá da Bandeira, como nos prometiam - que papalvos nós éramos!!!) é um exemplo claro de que o mesmo acontecimento, verdadeiro como aconteceu, pode ter interpretações diferentes sobre a forma como decorreu, ou porque o vivemos com sentimentos diferentes, ou porque já esquecemos alguns pormenores, talvez porque desagradáveis, desses momentos tristes e cheios de desilusão. Mas também tenho vindo a verificar que, sem qualquer polémica, o assunto tem vindo a ser clarificado. E, se polémica houver em qualquer assunto, que venha ela, pois é salutar enquanto virada para o esclarecimento de qualquer assunto e desde que se respeite a dignidade de qualquer dos intervenientes, como aliás está inscrito no estatuto do blogue.

A todos (e respectivas famílias) um grande abraço.

António Gonçalves