BCAV 2909
HISTÓRIA DA
UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(01.0004)
CERIMÓNIAS DE DESPEDIDA (Sousel, Estremoz e Lisboa)
Cerimónia de despedida em Sousel
No dia 21 de Março de 1970
o BCAV 2909, após, em formatura geral, na Parada do Regimento, ter recebido o
estandarte, marchou em viaturas para Sousel, onde formou no largo fronteiro à
igreja de Nossa Senhora da Orada, afim de ter lugar a festa de despedida.
Ladeando o altar
improvisado, junto do qual estava montada uma guarda de honra, viam-se os
guiões dos anteriores batalhões que tiveram por unidade mobilizadora o Regimento
de Cavalaria 3.
Na assistência, além de
numerosos familiares de militares, muito povo, vendo-se na tribuna de honra as
mais representativas entidades e figuras da região, mormente de Évora, Estremoz
e Sousel, destacando-se de entre elas não só o comandante da 3º Região Militar,
General Fernando Louro de Sousa, o comandante do RC3, Coronel António Maria
Rebelo, o presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Dr. Rosado e outros, como
ainda o General, na situação de reforma, Joaquim Plácido Duarte Silva, pai do
comandante do Batalhão e figura muito conhecida e estimada na região, pois além
de muitos anos ter servido a Região Militar de Évora de que foi General Comandante
está também muito ligado à histórica vila de Sousel e ao Alentejo por laços
familiares.
A missa campal foi
celebrada pelo Capelão do Batalhão, Alferes Domingos Carneiro, coadjuvado pelo
Capelão da Escola Prática de Artilharia, Capitão Armando Baptista da Silva e
pelo Prior do Cano, tendo o Capelão da Unidade, no momento próprio, numa
homilia de circunstância, enaltecido as virtudes de D. Nuno Álvares Pereira,
ontem militar brioso e devoto da Virgem, hoje proclamado oficialmente Santo da
Igreja e que igualmente antes da batalha dos Atoleiros ali estivera ajoelhado
orando.
A finalizar apontou-o como
exemplo aos militares, afirmando que seguindo o seu exemplo e aliando o querer
da nossa força de vontade à confiança no Céu, pelos rogos da Senhora da Orada,
a cujos pés estávamos, poderíamos agora e mais tarde cantar vitória como D.
Nuno.
À comunhão algumas centenas
de militares receberam o “Pão dos Fortes”, pois que conjuntamente com a festa
de despedida celebrava-se neste dia a Comunhão Pascal do Batalhão.
Terminada a celebração da
Ceia do Senhor o Capelão do Batalhão procedeu à bênção de quatro Imagens da
Virgem de Fátima, generosamente oferecidas pelas senhoras do Movimento Nacional
Feminino e que pelas mesmas foram entregues aos comandantes de Companhia.
Seguiu-se a bênção dos
guiões após o que estabeleceu um silêncio profundo entre a assistência. O
General Louro de Sousa levanta-se do lugar e dirige-se ao General Duarte Silva,
convidando-o a fazer entrega do guião do Batalhão ao filho.
Momento grandioso, mesmo
sublime, mas ao mesmo tempo esmagador. O “Velho General”, de 78 anos de idade,
com passo firme, dirige-se ao filho, Comandante do Batalhão que brevemente
parte para o Ultramar e das forças em parada e frente à formatura faz-lhe a
entrega do guião, ouvindo-se-lhe com voz forte, mas a que não era alheia a
emoção: “QUE O SAIBAS HONRAR, MEU FILHO”.
O General Duarte Silva entregando o guião do
Batalhão ao seu filho, Tenente-Coronel Duarte
Silva, Comandante do BCAV 2909
(foto de arquivo cedida pelo Dr. Joaquim Duarte Silva, filho do Comandante e neto do General)
De entre a assistência,
esmagada e subjugada, irrompe uma estrondosa ovação de palmas.
Após a entrega dos guiões
às Companhias, os Exmos. Comandante da 3ª RM, General Louro de Sousa, o
Comandante do RC3, Coronel Rebelo, proferiram patrióticas alocuções, acabando
por desejar felicidades ao Batalhão nas terras do Ultramar e manifestar
confiança no cumprimento da missão.
O Comandante do Batalhão,
em resposta, agradece e, no seu improviso, estabelece paralelo entre o ontem de
D. Nuno e a sua táctica, com um inimigo cuja identidade e fronteiras eram
conhecidas, e o hoje, em que o inimigo e frentes são imprevistas, encontrando-se
ele, até, muitas vezes à retaguarda, mas que, de qualquer modo, não tinha
dúvidas de que a missão seria cumprida e que essa garantia não era só dada por
ele mas sim por todos os seus homens que de viva voz o afirmavam.
Lança então o seu grito de
guerra em que ao seu brado "SUS" o pessoal responde numa só voz "A ELES!", ecoando o
grito forte e uníssono pelas cercanias de Sousel como uma peremptória afirmação
da certeza perene e indelével de que tal como Nuno Álvares Pereira, que depois
de ter ajoelhado e rezado no mesmo local, lança esse grito e desbarata os
castelhanos, também o BCAV 2909 procurará os inimigos da Pátria onde quer que
se refugiem e os aniquilará.
Seguidamente o Batalhão com
os guiões dos outros Batalhões e a fanfarra do RC3 à frente, desfila pelas ruas
de Sousel, entre ovações de palmas do povo e presta no lugar de honra,
continência ao General Comandante da 3ª RM que se encontrava acompanhado das
entidades oficiais, tendo à sua direita o General Duarte Silva.
Acabado o desfile, o
pessoal tomou lugar nas viaturas e regressou a quartéis.
(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo
Histórico Militar – Lisboa)
(CONTINUA)