terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0014)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

CONCLUSÕES

DE ORDEM GERAL

A área do Sub-sector ZBA é presentemente uma zona de guerrilha pura, onde a subversão chegou a atingir a totalidade dos povos. Com excepção da área de Cambamba, onde a recuperação das populações já permitiu a organização de duas sanzalas, em que vivem cerca de 900 indivíduos, em toda a restante ZA as populações nativas vivem na ilegalidade, sujeitas a cerrado controlo do IN.
A acção das NT na captação e recuperação das referidas populações tem sido extremamente morosa e difícil devido às características da própria população da região, derivadas dos seus condicionamentos étnicos, de pouco contacto com o branco, do injusto tratamento a que, por vezes, foi, no passado, sujeito, reforçadas com uma doutrinação intensa e bem orientada por parte do IN.
Estas características ressaltam essencialmente nos aspectos do orgulho, ódio ao branco, espírito combativo e não aceitação de outra ideologia que não seja a que lhe foi incrustada.
Os combatentes IN, apesar das privações sofridas, mantêm um moral bastante elevado. As populações, devido à constante acção das NT e em virtude das privações sofridas, estão parcialmente desmoralizadas. As tentativas de acção psicológica exercidas sobre a população, se reiteradas e devidamente orientadas, deverão conduzir a resultados encorajadores, melhores do que os conseguidos até ao momento.

O terreno do Sub-sector, muito ravinado e coberto, com poucas e más vias de comunicação, confere ao IN excelente abrigo, permitindo-lhe boa observação, tornando muito penoso o trabalho das NT e difícil a surpresa, única maneira de conduzir as NT a resultados satisfatórios.

As deslocações das NT são bastante dificultadas na época das chuvas, não só pela acção desta sobre o solo, mas também pelo aparecimento do capim, que chega a atingir três metros de altura.

O facto de o IN ter conseguido resistir a 10 anos de luta em tão precárias situações de vida, em especial noq eu se refere a vestuário e medicamentos, leva a admitir que, a menos que tais dificuldades lhe sejam agravadas, poderá manter-se em tais circunstâncias por longo tempo.

Todos estes factores levam a considerar que o IN do Sub-sector ZBA ainda está mobilizado e suficientemente fortalecido sem dar indícios de renunciar até à tal vitória de que continua convencido.
Isto no que respeita aos combatentes, uma vez que grande parte da população prefere apresentar-se por não acreditar nas promessas que lhe foram feitas há 10 anos, não o fazendo em maior escala com o receio das represálias a que estão sujeitos quando descobertas as suas intenções.

Durante a permanência do anterior Batalhão no Sub-sector ZBA, o IN executou alguns ataques e flagelações a Fazendas e a colunas auto, nunca tendo levado a efeito qualquer acção significativa sobre os aquartelamentos, o que não quer dizer que se possam descurar as necessárias medidas de segurança.
Julga-se, no entanto, que o IN não teve em geral iniciativas por carência de meios e grande receio da tropa.

POSSIBILIDADES DO IN

Enumeração
- Efectuar ataques esporádicos e de curta duração às colunas militares que, obrigatoriamente e com frequência, percorrem os poucos itinerários existentes.
- Executar acções de represália e de raptos ou roubos sobre as fazendas e suass instalações e sobre os trabalhadores e populações que nos sá afectas, nas tongas, nas sanzalas, ou nas lavras.
- Resistir à penetração das NT nas suas zonas de refúgio.
- Desencadear ataques e flagelações sobre os estacionamentos das NT.
- Colocar engenhos explosivos nas vias de comunicação e armadilhas nos trilhos de acesso aos seus refúgios.
- Diluir-se no terreno, furtando-se ao contacto com as NT e escapando à sua acção.
- Concentrar meios, vindos de regiões a apreciável distância umas das outras, o que lhe confere a possibilidade de levar a efeito acções de certa envergadura.

Análise e discussão das possibilidades
»» São indícios de que pode efectuar ataques a colunas:
- A existência em quase todas as picadas de excelentes locais para a montagem de emboscadas.
- Algumas acções já efectuadas.
- O sistema de vigilância que montou e que lhe permite detectar a grande distância a aproximação das colunas.

»» São indícios de que pode executar acções de represália:
- Alguns renumerados ataques que em tempos fez a fezendas.
- O desesperado estado de carência de vestuário, dinheiro e víveres que o pode impelir a tentar acções de saque.

»» São indícios de que pode resistir à penetração das NT:
- A escolha de localização dos seus refúgios, em alguns doas quais têm sido encontrados abrigos individuais, alguns subterrâneos.
- O sistema de vigilância que lhe permite detectar a grande distância a aproximação das NT e escolher a modalidade de actuação mais conveniente.
- O armadilhamento dos trilhos de acesso.

»» São indícios de que pode atacar estacionamentos das NT:
- As características do terreno, bastante arborizado, que permite ao IN a possibilidade de se aproximar dos estacionamentos das NT sem ser detectado.

»» São indícios de que pode colocar minas e armadilhas:
- As referências de que o IN o faz noutras áreas da AM1.
- O facto de esses engenhos já terem sido accionados ou detectados pelas NT.

»» São indícios de que pode diluir-se no terreno:
- A atitude que tem adoptado à aproximação das NT.
- Declarações de presos e apresentados que referem ter, por vezes, observado a movimentação das NT sem se revelarem ou serem detectados.

»» São indícios de que pode concentrar meios vindos de regiões a apreciável distância umas das outras:
- A permanência em alguns “quartéis”de grupos móveis constituídos por elementos de outros “quartéis”, alguns bastante afastados.

Probabilidades relativas de adopção

As possibilidades atribuídas ao IN poderão, nas várias circunstâncias consideradas, serem enumeradas pela seguinte ordem:

»» Face a uma operação de grandes efectivos:
- Diluir-se no terreno, furtando-se ao contacto.
- Mudar-se para locais de refúgio mais afastados e de mais difícil acesso.
- Por vezes, reagir à penetração das NT.

»» Face a uma operação de pequenos efectivos:
- Resistir à penetração das NT em geral com fogos de flagelação.
- Diluir-se no terreno, furtando-se ao contacto e escapando à acção das NT.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0013)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

SITUAÇÃO EM ABASTECIMENTOS. LOCAIS DE APOIO


O IN bastante frugal e resistente, alimenta-se quase exclusivamente com os produtos agrícolas cultivados nas suas lavras e com os produtos da caça e da pesca.
As munições, o armamento, o sal, as roupas e os medicamentos são trazidos do Congo por grupos de reabastecimento ou recebidos de grupos IN localizados nos sectores vizinhos.

ASPECTOS CARACTERÍSTICOS E PONTOS FRACOS


Como aspectos característicos do IN, apontam-se os seguintes:

- Conhecimento profundo do terreno em que actua.
- Perfeita adaptação ao meio em que vive.
- Actua em pequenos grupos que se deslocam com rapidez e que facilmente se dissimulam.
- É bastante resistente e frugal.

Como pontos fracos apontam-se os seguintes:

- Dependência do exterior no que se refere aos reabastecimentos em armas, munições, medicamentos, sal e vestuário.
- Dependência das populações refugiadas nas matas e das respectivas lavras para obtenção dos géneros alimentícios que lhe são indispensáveis.
- Obrigatoriedade em se deslocar rapidamente utilizando trilhos que, por serem bem marcados, acabam por ser facilmente referenciados.

OUTROS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO

Numa área praticamente sem população amiga, as fontes de notícias que se podem utilizar são os apresentados, presos, os documentos e os elementos obtidos através de reconhecimentos aéreos.
A melhor fonte de notícias é dos elementos IN apresentados, que devem ser utilizados como guias sempre que possível.

CONTRA INFORMAÇÃO

O isolamento em que se vive na ZA do Sub-sector e a quase sempre inexistência de populações, faz com que os problemas ligados à contra-informação se apresentem à primeira vista como facilitados, sem que, como é evidente, signifique que os mesmos possam ser ignorados ou descurados devido ao contacto que o IN deve ter com elementos conhecedores de certos aspectos da vida nos “quartéis”.
Dentro do Sub-sector, é necessário por em execução rigorosamente as seguintes medidas:
- Não se executar RVIS nas proximidades da realização de uma operação.
- As tropas só serem informadas da verdadeira finalidade da operação ou acção no momento em que saem do aquartelamento. É necessário contar também com a extraordinária capacidade de observação do nativo, que lhe permite não só detectar grande parte dos nossos movimentos, como também aperceber-se do mais ligeiro “indício técnico” das intenções das NT. Verificou-se que alguns apresentados da Sanzala de Cambamba tinham ligações com o IN.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0012)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

MOVIMENTOS, LINHAS DE INFILTRAÇÃO OU DIRECÇÕES GERAIS DOS MOVIMENTOS

Os movimentos do IN através do Sub-sector fazem-se por pequenos grupos entre “quartéis” e povos.
Têm-se verificado movimentos entre os “quartéis” de Mufuque e o de Quiuanda e entre as regiões Candende-Mufuque e de Catoca-Cambeje.
Existem dias direcções de movimento dos grupos IN em trânsito entre Coa e Quanza Norte:
a) Central do Quindembe – Quartel Candende – Quartel Bala Cassungo;
b) Quartel Muhombo – Central do Dange – Quartel Cóloa.

FORMAS DE ACTUAÇÃO, TÁCTICA, REDES DE INFORMAÇÃO E COLECTA DE FUNDOS

(a) FORMAS DE ACTUAÇÃO

- Actua normalmente em pequenos grupos aproveitando sempre a protecção que lhe dá o terreno, desenfiando-se do fogo das NT e garantindo-lhe bons itinerários de retirada.
- Não se mostra interessado em atacar as NT quando constate uma força muito superior à sua, o que aliás normalmente sucede. Porém, tem tido o cuidado de emboscar e armadilhar itinerários de saída das NT da zona de operações. É por isso que se impõe muitas vezes, o que é difícil, a escolha de itinerários de retirada diferentes dos de acesso à entrada.
- Actua contra populações africanas, para as aterrorizar ou obter alimentos e artigos manufacturados.
- Há informações de que respeita a tropa que apareça com frequência em locais diferentes.
- Evita actuar sobre a tropa que apareça que veja que vai bem atenta e disciplinada.
- Inicia, muitas vezes, o fogo de Metralhadora Ligeira após um tiro de pistola.

(b) REDES DE INFORMAÇÃO E DE COLECTA DE FUNDOS

Com excepção da região de Cambamba, não existe em toda a ZA do Sub-sector populações apresentadas pelo que o IN não dispõe de rede de informações nem de colecta de fundos, admitindo-se que mantenha ligação com a população de Cambamba.
As suas informações baseiam-se na observação directa e constantre a que submete as NT, utilizando observatórios montados em pontos dominantes.
Na região de Cambamba têm-se verificado ligações entre as populações apresentadas e as da mata.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DO BCAV 2909


BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0011)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

APRECIAÇÃO GENÉRICA DA ACTIVIDADE MAIS RECENTE DO INIMIGO

A ZA do Sub-sector encontra-se na região dos Dembos que foi sempre e ainda é hoje o centro da rebelião no Norte de Angola.
Verifica-se que desde 10 de Junho de 1969 (data em que o Batalhão que rendemos assumiu a responsabilidade da ZA) até fins de Abril de 1970, a actividade do IN se desenvolveu da seguinte forma:

- 9 acções em Junho 69 (5 emboscadas, 3 flagelações, 1 ataque);
- 4 acções em Julho 69 (1 reacção à emboscada, 1 roubo, 1 flagelação e 1 ataque);
- 4 acções em Agosto 69 (1 emboscada, 1 reação à emboscada, 2 flagelações);
- 5 acções em Setembro 69 (4 flagelações, 1 ataque);
- 7 acções em Outubro 69 (1 emboscada, 1 ataque, 5 flagelações);
- 3 acções em Novembro 69 (2 ataques, 1 flagelação);
- 7 acções em Dezembro 69 (2 reacções a emboscadas, 3 flagelações, 1 armadilha accionada, 1 emboscada);
- 10 acções em Janeiro 70 (6 flagelações, 4 emboscadas);
12 acções em Fevereiro 70 (11 flagelações, 1 emboscada);
- 2 acções em Março 70 (2 flagelações);
- 2 acções em Abril 70 (2 flagelações);

POPULAÇÕES NATIVAS SOB CONTROLO DO IN

A quase totalidade da população nativa da região encontra-se controlada pelo IN, por sua livre vontade ou sob coacção, e garante-lhe apoio logístico necessário à sobrevivência.
Na ZA do Batalhão tal controlo tem sido bastante eficiente e tem conseguido contrariar com zero êxito a Acção Psicológica realizada pelas NT com lançamento de panfletos.
Sabe-se que algumas populações vivem em condições miseráveis e em permanente insegurança, começando a não acreditar nas inúmeras promessas de independência e vida melhor que lhes têm sido feitas, mas a verdade é que as apresentações têm sido poucas.
Quando a persuasão não chega, o IN ameaça com represálias sobre os familiares dos que querem apresentar-se.
Tal controlo manifesta-se até nos deslocamentos de pessoal entre “quartéis” ou povos vizinhos, com a obrigatoriedade de todos os indivíduos em trânsito possuírem “guia de marcha” ou “guia de trânsito” passada pela autoridade competente na origem, que implica também a apresentação às autoridades de destino.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

(CONTINUA)