quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A primeira vez que andámos de helicóptero creio que foi na sequência de um rapto de crianças que desencadeou uma enorme operação, logo no princípio da nossa comissão. Fomos então a uma base chamada de Tanzânia onde, evidentemente, com todo o barulho que envolvia as deslocações aéreas não se encontrou absolutamente nada, que eu me lembre. Já não sei quantas vezes utilizámos os helicópteros mas lembro duas ou três histórias a eles associados. A primeira e a segunda história tem a ver com o meu amigo e vizinho de rua Eduardo Telhada que depois foi comandante da TAP de onde está reformado. Para meu enorme espanto um dos pilotos do helicóptero foi precisamente esse meu amigo que da primeira ou segunda vez que nos levou ao mato fez primeiro um “raid” turístico sobre o rio Dange, à “Vietnam”, seguindo o curso do rio e mesmo em cima dele, num deslumbramento paisagístico que quase fez esquecer que dentro de momentos estaríamos a pé, no meio da selva, com chuva e, sobretudo apreensivos, que é a palavra que eu uso para descrever a enorme chatice que eram as operações, dormindo na mata e ansiando pelo último dia de regresso ao Mucondo. Pouco tempo depois desta operação, inesperadamente, um helicóptero sobrevoou o Mucondo aterrando. Dele saiu o Eduardo Telhada que desviando a rota foi ao Mucondo tomar o pequeno-almoço e dizer-me que tinha estado com o meu irmão em Luanda. Sobre a última vez que voei com ele, ainda no mês passado falámos nisso, a rir à gargalhada. Tratava-se de uma operação, como a maioria delas, em que entrávamos num ponto e saíamos três dias a pé à frente. O Eduardo Telhada sabia que era ele, ou o agrupamento dele, que nos recolheria três dias depois e o sítio onde essa operação seria realizada. De modo que, com a amizade de um vizinho de toda a nossa então curta vida, pôs-nos imediatamente no destino dizendo: - Fica naquele morro, não te mexas, que no sábado venho buscar-te, como foi. E ali ficámos três dias, ficcionando as posições de guerra pelo rádio. Não foi a única vez que ficcionámos a guerra e sempre me espantou o silêncio, indispensável sobre pena de levar uma enorme “porrada”, de todos os participantes na ficção a quem era preciso ensinar que nos tínhamos estafado três dias e não estado parados a vigiar possíveis atacantes de uma trincheira no alto de um morro. Mais à frente contarei um ou dois desses episódios. Amanhã contarei a principal operação, a partir de Luanda, nos helicópteros Puma.

Sem comentários:

Enviar um comentário