quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ainda as operações

Há mais duas histórias de guerra para mim inesquecíveis embora uma delas me pareça uma enorme mentira nos seus pormenores porque era contada por mim e pelo Zé Aragão com diferentes protagonistas. Esta história passou-se numa operação em que o primeiro e o terceiro pelotão actuaram em conjunto na zona da sede do batalhão em Zemba. Progredíamos na meia encosta de um morro quando, de súbito, fomos flagelados do cimo desse mesmo morro. Rapidamente aproximámo-nos da base do morro em passo quase de corrida (É mais fácil de descer do que subir, já dizia o Veloso de Fernão Mendes Pinto) e aí instalado (conto eu) gritei: onde está o gajo do morteiro? E a resposta veio: o gajo do morteiro sou eu, mas o morteiro ficou lá em cima!
A segunda história passa-se numa outra operação com o Chaves. O meu pelotão vinha à retaguarda num trilho no meio de uma lavra e também fomos flagelados. Atirados para o chão disse aos soldados que estavam à minha frente para disparar dois ou três tiros para o ponto de origem do flagelamento. A ordem terá sido mal compreendida e dos tiros iniciais passou-se a uma fuzilaria inacreditável, com um completo descontrolo de tiro. Fiquei danado e só com muita berraria se conseguiu parar o tiro e continuar a marcha. Essa operação foi aliás uma das que foi completamente falseada pelo Chaves e por mim, graças a Deus.
Falando do Zé Aragão que infelizmente morreu há poucos anos, não posso deixar de mais uma vez lembrar a sua permanente alegria e boa disposição. Fui amigo dele, não muito íntimo, mas desde a infância, na praia, depois num colégio e depois, sem nunca deixar de o ver completamente, em Estremoz de onde íamos e vínhamos juntos todos os fins-de-semana a Lisboa. Na última semana de Estremoz, tendo ele acabado de ser promovido e passado a ter direito a continência à porta de armas, ainda me rio à gargalhada com o que nós nos rimos quando ele, estando eu já cá fora à espera dele, passando a porta de armas e recebendo a continência me diz logo a seguir: - éh pá, viste? Ganda pinta! E realmente é fantástico como mesmo as pessoas que não são sensíveis a deferências, incham com sinais de importância própria mesmo que a importância não fosse nenhuma como era, manifestamente, o nosso caso.

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