sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O “post” do Gomes, a quem mando um abraço, fez-me lembrar as minhas memórias sobre o episódio da Polícia Militar.
A nossa comissão foi dividida em duas partes, para quem não saiba: um ano no Mucondo e o resto na intervenção a partir do Grafanil em Luanda. Em Luanda estacionavam diversas forças, entre elas a Polícia Militar e os Pára-quedistas, ambas tropas de elite e, por essa razão, rivais. Um dia pegaram-se e estupidamente dispararam uns contra os outros, havendo baixas por causa dessa espantosa estupidez. O castigo foi serem as duas deslocadas para fora de Luanda, passando a tropa comum de guarnição. Era, porém, preciso ter Polícia Militar em Luanda. Nós estávamos no Grafanil. O nosso batalhão por ser comandado por quem era, tinha fama de eficiência e de disciplina. Foi assim que, de um dia para o outro, passámos a “Chuis” militares. A tarefa era guarnecer os creio que quinze postes de observação da cerca de Luanda, patrulhar esses postes e patrulhar a estação de caminho de ferro. E é assim que retenho nitidamente na memória estar na estação, à hora do embarque de uma multidão para Malange, ostentando na manga as letras garrafais de PM (Polícia Militar) e, do alto dos meus metro e sessenta e seis centímetros de altura, muito pouco ultrapassados por alguns dos soldados que me acompanhavam, pensar, melancolicamente, primeiro na figura ridícula que fazíamos e, segundo, se porventura se passasse alguma coisa, nós, que não tínhamos experiência absolutamente nenhuma de ordem pública, e que não nos impúnhamos pela presença corpulenta, o que faríamos?

1 comentário:

  1. Porque só quem lá andou sabe as circunstâncias e o contexto, permitam-me apenas que, para que se identifique o contexto, refira que este "período" de Polícia Militar foi já no final da comissão, talvez um mês e pouco antes de regressarmos e enquanto esperávamos pelo tão ansiado regresso (uma das primeiras Companhias a regressar de avião).
    Isto é: enquanto estávamos no "desemprego" (ou seja, esperando o embarque), toca a trabalhar, então com a farda de polícias militares!...
    Um pormenor: de facto fizemos de tudo!...
    Já agora um desabafo: apesar das dificuldades que tínhamos acabado de viver, foi uma grande "estafadela". Nós éramos (felizmente) muito disciplinados mas a tarefa de polícia era mesmo coisa para a qual não tínhamos sido treinados (como diz o Vieira no artigo, trabalho de "chuis")...
    Um abraço,
    António Gonçalves

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