segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Continuámos a apanhar mulheres e crianças e ouvindo pouquíssimos tiros e quando ouvíamos eram de canhangulo, como amanhã contarei um dos exemplos.
Um dia chegou a ordem de se fazer uma enorme operação, de nome “Nova Luz” cujo comando seria do próprio comandante-chefe de Angola, o depois célebre general Costa Gomes. A operação partia do princípio de que em toda a região dos Dembos estavam apenas assinaladas duas armas mauser e que as populações não se apresentavam porque tinham medo de serem maltratadas. Era preciso demonstrar que nós não éramos maus e a forma engendrada de o fazer foi o de distribuir rações de combate pela mata acompanhadas de camisolas de interior, hoje chamadas camisolas t-shirts, com os dizeres “Angola é Portugal”. Guardo uma dessas camisolas, embora de momento não saiba concretamente o local onde a guardei, e sempre que penso nelas dá-me uma vontade de rir enorme pelo insólito da situação, horas na mata a andar e noites com chuva, trovões e formigas assassinas para deixar num qualquer trilho umas camisolas e uns mantimentos depois de nesses mesmo trilhos e caminhos, e pouco tempo antes, termos passado a destruir lavras e a chatear o indígena. Em todo o caso foi um momento de enorme descontracção: Só duas armas em toda a região norte? Pela experiência que vivi não poderiam ser muitas mais. Antes isso, pensei.

Sem comentários:

Enviar um comentário