terça-feira, 26 de outubro de 2010

Outro levantamento de rancho?

Outro levantamento de rancho?

Há uma outra história armazenada na minha memória que não sei já se se passou como eu vou contar ou se eu a ficcionei. O que garanto é que o que eu pensei é tal e qual o que vou descrever. Todos os dias, naturalmente, havia um oficial de dia e um furriel de dia do mesmo pelotão do oficial. A tarefa era muito simplificada porque, no fundo, consistia em assistir às refeições do pessoal e andar por ali com braçadeira na manga com ar de inspector. O pequeno-almoço era antes da formatura das oito, talvez às sete e meia, já não sei. Sei que eu, como oficial de dia, e estando o capitão na cama, como estava até às oito, raramente, ou quase nunca, assistia ao pequeno-almoço, ficando a tarefa para o Justino ou o Gonçalves. Um dia, dormindo ainda, o Justino apareceu no quarto dos oficiais e disse-me: o pequeno-almoço está uma porcaria e o pessoal não o quer comer. Ora eu estava em falta, não estava no refeitório, o capitão, nessa altura, e provavelmente durante quase toda a comissão, gostaria de ter tido a oportunidade de me dar uma “porrada”. Um levantamento de rancho é, na disciplina militar, uma coisa gravíssima. De modo que fui com o coração nas mãos enfrentar o pessoal esfomeado. Chegado ao refeitório sem inquirir absolutamente nada do estado da comida, dirigi-me a cada uma das mesas e perguntei individualmente: já comeste? E fosse qual fosse a resposta dizia: podes sair ou come se tens fome. Não sei porque milagre em cinco minutos estava tudo fora e às oito lá estavam na formatura. Julguei-me muito habilidoso e respirei de alívio.

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