terça-feira, 26 de outubro de 2010

O eco

Hoje, falando ao telefone com o Dias, veio-me à memória uma história que se passou com ele mas na frente de todos os oficiais, mais o capelão e o médico. Dá-se o caso que não sei porque carga de água, estando nós em cavaqueira ao almoço, falou-se no “eco” dizendo o Dias que seriam necessários dezassete metros para que o som, batendo num obstáculo, fosse captado no retorno ao ponto da sua origem.
Todos aprendemos da cultura liceal que para haver eco seria necessário pelo menos a distância de dezassete metros para o ouvido captar o retorno do som. Porquê, para se perceber a história, porque o som viaja à velocidade de 340 metros por segundo e o ouvido só distingue sons com 0.1 de segundos de intervalo. Isto é são precisos 0.1*340 metros=34 metros, dezassete para lá e dezassete para cá, para o ouvido ter capacidade de ouvir o retorno, ou eco, de um berro que se dê contra uma parede ou outro obstáculo qualquer. O capitão ripostou que não, que seriam uns metros quaisquer dependendo das circunstâncias. O Dias não se ficou e insistiu que tinha estudado o assunto recentemente. O capitão ficou encarnado e manteve a sua já com os restantes assistentes incomodados com a borrasca que se aproximava. O Dias não teve sensibilidade nenhuma para a humilhação do capitão e insistiu na sua: que não que ele sabia porque tinha estudado e era científico. O capitão perdeu completamente a cabeça e encarnado de fúria e quase a explodir bramou: Hó Dias eu sou capitão, eu tenho três traços em cima do ombro, o eco é como eu digo e estamos conversados.
Na altura pareceu-me uma história inacreditável e altamente significativa. Esquecia que todos tínhamos pouco mais de vinte anos. Mesmo o capitão não tinha trinta, o médico também não chegaria aos trinta e o capelão pouco passaria. Não se tratava de saber ou não uma coisa. Tratava-se de o capitão ter-se deixado encurralar numa opinião insustentável e dele só sairia humilhado o que para ele, como para qualquer um, era um desastre, tanto mais que, como já disse, o capitão tinha todos os defeitos e as virtudes que um voluntarista tem e portanto o eco deveria submeter-se à vontade dele.

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