domingo, 25 de dezembro de 2011
BOAS FESTAS
sábado, 24 de dezembro de 2011
Bom Natal e Ano Novo
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
FESTAS FELIZES
Um abraço fraterno
Boas Festas
No que diz respeito ao Ano Novo vou fazer votos para que seja uma surpresa agradável.
Clemente Pinho
terça-feira, 8 de novembro de 2011
PROBLEMA RESOLVIDO!
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Não, meu major! Os meus são do tamanho médio!
Personagem principal neste apontamento é o major Adão Baptista, que era quem apoiava o comandante de batalhão no planeamento das operações. E foi ele próprio que contou a cena na presença dos oficiais, num momento de lazer. Adão Baptista era um homem forte, relativamente baixo se comparado com o comandante Duarte Silva, mas muito social. Mas a sua característica mais marcante era, para mim, ser um autêntico gentleman. Era um verdadeiro cavalheiro, super delicado em atitudes e conversação, especialmente com as senhoras, ao estilo da clássica tradição inglesa. Aliás, da boca dele não se ouvia uma palavra menos correcta. Muito menos um palavrão.
De bengalim na ponta dos dedos, lá estava o major Adão Baptista junto da tenda de comando, a observar o movimento das suas tropas acabadas de chegar, quando vê um militar que, de chinelo no pé e toalha ao ombro, se dirigia para a tenda dos chuveiros em pelota. Major Adão franziu a testa, focou melhor o olhar, e confirmou o que efectivamente os seus incrédulos olhos tinham visto. Um militar, completamente nu! Embora longe, grita-lhe:
- Ouve lá, ó nosso! Pensas que os tens grandes?
Sem interromper a marcha, a resposta foi imediata:
- Não, meu major! Os meus (testículos) são do tamanho médio!
Acrescente-se que, após contar a cena e das risadas do pessoal presente, o major perguntava ao Comandante Duarte Silva:
- Meu comandante! Com a elegância desta resposta eu não tenho ponta por onde lhe pegar!
E o comandante com um sorriso discreto:
- Efectivamente, ó Adão! Efectivamente!
domingo, 19 de junho de 2011
Circular
Caro camarada.
Junto envio um folheto alusivo ao blogue que criei, destinado ao registo e à partilha das recordações e opiniões da época que marcou a nossa juventude e a de outros milhares de jovens.
A guerra juntou-nos, a vida tem-nos separado, os almoços juntam-nos em cada ano, este blogue pode unir-nos em cada dia.
Todos temos nem que seja uma história para contar. História que mais ninguém viveu.
Cabe-nos assinalar o registo da nossa vida ou deixá-la cair – ingloriamente – no esquecimento.
Cabe-te a ti a decisão de avivar a memória do colectivo português ou deixá-la adormecida.
Se não tens registo de endereço na net, nem queres por os teus filhos a fazer esse trabalho, podes enviar-me textos e /ou imagens, que eu tratarei de os inserir sob o teu nome, podendo fazer qualquer eventual correcção sem alterar o sentido do texto.
Este folheto foi entregue pessoalmente a todos os camaradas que participaram no almoço convívio no Crato, no passado dia 28 de Maio.
Junho de 2011
Aqui fica a transcrição.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
"O seu a seu dono"
Esclarecimento.
Durante o encontro no Crato tive a oportunidade de trocar algumas palavras com o Taxa Araújo sobre o blogue e para surpresa minha fui alertado para a possibilidade de ter faltado à verdade no que diz respeito à rotação do batalhão.
No capítulo 15º , das minhas crónicas “Como eu Entrei na Guerra”, que intitulei da “rotação do descontentamento” eu escrevi, a seguir à citação das palavras proferidas pelo nosso comandante Duarte Silva, o seguinte:
“De encontro a que sentimentos? Quem é que nos ouviu ou se importou com a nossa vontade? Que tristeza…"
Ao que parece e segundo os esclarecimentos que entretanto pedi e que recebi, (embora ainda me falte os do Dias)não tenho qualquer problema em retirar o parágrafo anterior pois acredito que de facto alguns dos responsáveis da c.cav. 2692 foram ouvidos.
Eu não fui e nem fui incumbido de consultar os homens que estavam sob a minha responsabilidade directa (mecânicos e condutores).
Terá sido uma falha do sistema ou do organigrama, pois o único alferes mecânico que havia no batalhão pertencia à CCS e, por conseguinte, seria eu a participar na reunião que, não duvido, se terá efectuado na companhia.
E ainda bem que não estive ,pois tendo em conta a minha irreverência de certeza que não ficaria calado em função da forma como o comandante aterra no Mucondo para, em ar de gozo, nos comunicar que tinha aceite a intervenção.
E logo ao Mucondo. Vem de Luanda do Q.G. e a primeira escala que faz é logo na companhia que se opôs ao destino, que possivelmente já estava escolhido.
Resta alguma dúvida de que com tal atitude apenas pretendeu meter na linha o único capitão e os homens, que tiveram a coragem de desalinhar?
Termino com um esclarecimento.
Para mim “Os senhores da Guerra” não são os comandantes de batalhão, de companhia ou de pelotão.
Esses quanto muito eram na altura também carne pra canhão de 1ª, de 2ª ou 3ªcategoria. Nós os sargentos talvez de 4ª e os soldados nem categoria tinham, eram simplesmente carne pra canhão.
Desculpem a minha frontalidade, mas pese a idade as coisas que me marcaram profundamente eu não esqueço.
Esta não é apenas a minha versão, é a verdade do que se passou comigo. Outros terão a sua verdade que eu nem sequer me atrevo a contestar.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico da C.Cav. 2692
quinta-feira, 2 de junho de 2011
historias da nossa guerra
a minha versão que é ligeiramente diferente. Todos devem recordar a tão falada Fazenda Ten-
tativa que não sendo o paraiso era o mal menor. O Taxa pensava que realmente íriamos para
lá,tanto assim era que a certa altura chegou ao Mucondo uma encomenda vinda da C.Cav 2691
como prémio de consolação (gozo do Cuco Rosa). O Taxa ficou de tal modo chateado que mandou
fazer em Massa de pão um daqueles decorativos das caldas enviando por sua vez ao remetente
com a dedicatória respectiva.
Portanto em relação a este assunto penso que o balde de agua fria apanhou a totalidade da Com.
incluindo o seu Comandante.
P.S.- Foi realmente uma boa operação esta no Crato,foi pena haver tantos desenfiados.
Um abaço para todos presentes e ausentes.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
CRATO 2011! MONTEMOR-O-NOVO 2012!
terça-feira, 31 de maio de 2011
Ida para a intervenção
Nós todos estávamos absolutamente convencidos que se a primeira parte da comissão fosse um sucesso teríamos assegurada uma segunda parte mais ou menos pardisíaca, numa praia qualquer, com sanzalas perto. A certa altura o comandante foi chamado a Luanda e soube-se então que em vez do tal paraíso e por razões militares que desconheço, propunha-se que fossemos para a intervenção. O comandante terá respondido que tinha que "auscultar os seus homens" e para tal convocou uma reunião com todos os capitães de companhia mandando-lhes averiguar junto do pessoal o que pensavam sobre o assunto. Na nossa companhia houve unanimidade total: ninguém quiz ir para a intervenção. Foi essa a opinião que o capitão transmitiu na tal reunião. Porém todos os outros capitães se manifestaram, em nome das suas companhias, favoravelmente e portanto o nosso destino final ali ficou traçado. Lembro-me muito bem do enorme desgosto que tive quando o capitão, regressado de Zemba nos deu a "novidade". Acabou por não ser tão mau como se pensava mas em todo o caso foi nesse período que tivémos as nossas duas baixas.
A operação Crato correu muito bem e confesso que tive uma enorme alegria por trinta e tal anos depois poder tirar uma fotografia com o Justino e o Gonçalves! Eles estão iguais. Eu tenho uma barrigona, estou careca e tenho cabelos brancos! Mas pareceu que foi ontem!
Um grande abraço a todos
João Vieira
segunda-feira, 30 de maio de 2011
2ª Parte da Comissão. Por favor esclareçam--me...
Tive o cuidado de numa das minhas crónicas referir o que se passou comigo e o que Comandante nos transmitiu quando aterrou no Mucondo, na primeira escala que fez no seu regresso de Luanda.
A forma como discursou não deixou transparecer que o destino do Batalhão para a 2ªparte da comissão tinha sido cozinhado no seio do próprio batalhão.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. CCav. 2692
Estórias do Mucondo
No operação Crato o Luís (1º cabo do 1º pelotão) contou-me o episódio da sua sede numa das muitas operações que juntos realizámos, não posso deixar de o relatar ainda que seja incapaz de lhe dar a graça que teve contada pelo seu protagonista, mas em todo o caso aqui fica para que não esqueça.
A estória do Luís , uma entre muitas das histórias do Mucondo.
Naquela operação, depois de dois dias no mato, sob o calor escaldante e húmido da mata ,o Luís deu por vazio o seu cantil de água, já noutras vezes tal tinha acontecido mas agora a sede tornou-se verdadeiramente insuportável, um suplício constante ou porque o calor fosse muito ou porque a operação decorria num terreno muito acidentado com constantes e penosas subidas aos montes logo seguidas de cuidadosas descidas não fosse alguma queda atirá-lo para o tronco de alguma daquelas gigantescas árvores com espinhos de vinte a trinta centímetros no tronco sempre prontos a espetaram-se nalgum incauto que ousasse sequer encostar-se à sua majestade : a árvore de espinhos.
Era muita a sede e, rapidamente, cresceu e tornou-se insustentável, ninguém lhe dava água pois se ainda tinham alguma, por terem sabido dosear o consumo e dessa forma também tinham doseado a sede, negavam tê-la, mas alguém mantinha ainda, não se sabe como, o cantil cheio de água.
O Luís aproximou-se do Gouveia (soldado do 1º pelotão) e pediu-lhe um golinho de água, a nega veio rápida, não tivesses bebido a tua tão depressa, não te posso dar água. Ó pá dá-me só um golinho. Não.
Passado um bocado, o Luís volta à carga: é pá um golinho não te vai fazer falta, tens o cantil quase cheio e nós ainda hoje havemos de encontrar um rio e encheremos os cantis, pelo amor de Deus dá-me só um golinho que já não aguento mais a sede. Não, já te disse que não posso dar a minha água, tivesses tido mais cuidado.
O Luís já não sabia como havia de dominar aquela sede cada vez mais macabra, por mais que quisesse deixar de pensar em água mais a sua mente insistia na água, ah se pudesse agora beber da água do poço , lá na terra, no "puto", sempre tão fresca, tão saborosa. Meu Deus, que pensamentos, não posso pensar em água, tenho de ter atenção não vá haver algum contacto com o IN, tenho de andar atento para não “lerpar”. Bolas a sede não me deixa tenho de encontrar uma saída.
Ao fim do dia, como era habitual, tentámos encontrar um lugar que reunisse condições para a pernoita, normalmente escolhia-se um local que nos acolhesse de modo a ficarmos fora do alcance de eventuais contactos nocturnos com o IN, fazia-se um círculo, dispersavam-se os homens de modo a que ficassem juntos apenas dois a dois , no máximo três, e nunca mais distantes que uns dez a vinte passos dos dois próximos grupos, no centro do círculo por vezes ficavam os graduados, nunca juntos, mas acompanhados de um ou dois homens.
Foi encontrado o local e o círculo da pernoita foi formado, o Luís quis ficar próximo do Gouveia que , entretanto já andava desconfiado com as atitudes do Luís. É pá, fico ao pé de ti, pode ser que tenhas consciência e ao menos me deixes molhar os dedos para os passar pelos meus lábios, sinto-os ressequidos. Se pensas que por ficares comigo vais ter água tira o cavalinho da chuva, podemos ficar juntos, somos da mesma secção, mas olha: vai pedir água a outro.
A noite caiu rápida , como sempre, a escuridão envolveu-nos a todos.
Por mim, não tinha medo da noite , tinha mais medo do dia, a noite com a sua escuridão protegia-nos, ninguém nos podia ver, além do mais estávamos deitados no chão posição de defeso contra qualquer ataque com armas de fogo. A noite era amiga em todos os sentidos.
Rapidamente toda a gente adormeceu. Toda não, pois estava montada a segurança, os grupos que formavam o círculo iam-se rendendo ao longo da noite na vigília da segurança.
O Luís soube aproveitar bem a noite, estendeu o pano de tenda ao lado do Gouveia, no grupo também ficou o Cruz, eram três, o Gouveia ficou no meio, defensor da sua água, fez do cantil a sua almofada, meteu-o mesmo debaixo da cabeça. Para o Luís esta atitude foi decepcionante, alimentava a esperança de que mataria a sede durante o sono, sempre pesado do Gouveia. Este não tardou em adormecer, um sono profundo de justos, sonhava já com os seus campos alentejanos, verdes do trigo ondulante na brisa da planície, chegavam-lhe os aromas das estevas e do alecrim, a guerra tinha ficado para trás, como era bom o sono, como era bom dormir! Mesmo que no chão húmido da mata.
De súbito o Luís teve um clique: chegou-se mais e mais para junto do Gouveia, este já ressonava, devagar, devagarinho, muito devagarinho, com muito jeitinho, ergueu o braço e colocou a sua mão esquerda junto da cabeça do Gouveia, encostou-a, aguardou por algum sobressalto do Gouveia, nada, um pouco mais, a mão do Luís foi-se infiltrando entre a cabeça do Gouveia e o cantil, cada vez mais dentro desse espaço de pressão, um pouco mais, o Gouveia mantinha o seu ressonar, agora com mais força, que sonhos teria, talvez sonhasse com a namorada lá tão longe, que seria dela, manteria aquele calor ardente do último beijo, já morto de saudades, atirado sem vergonha na Gare de Alcântara ainda antes do Gouveia marchar em direcção às escadas do Niassa que o levaria para terras tão distantes quanto misteriosas?
O único sonho do Luís era chegar à água, se lá chegasse, tinha o mundo na mão. Pouco a pouco, foi aumentando a pressão de baixo para cima sobre a cabeça do Gouveia e eis que já não sentia nas costas da sua mão o frio do cantil verde. O sono do Gouveia continuava profundo o que não admira dado que estava extenuado das caminhadas do dia.
O cantil estava liberto, mas isso não era tudo, o Luís tinha de com a outra mão, e só com ela, agarrar o cantil, tirá-lo daquele sequestro improvisado pelo Gouveia, tinha ainda que abri-lo e beber a água, tudo sem retirar a mão que sustinha a cabeça do Gouveia. Tudo sem retirar o Gouveia dos devaneios dos seus sonhos.
Ah , mas a sede , pelos vistos aguça o engenho e a habilidade, com muito jeitinho o sequioso Luís conseguiu retirar o cantil abri-lo e, meu Deus, que prazer dá beber quando se tem sede, o Luís bebeu e bebeu, bebeu mais de meio cantil, deixou alguma água para que o Gouveia não desse pelo embuste, a sua vontade era mesmo bebê-la toda.
No dia seguinte, já na caminhada da operação, o Gouveia deu pela falta da água, lembrou-se então que tinha dormido com o cantil debaixo da cabeça, ora bolas deitei o cantil, tinha-o mal fechado e o resultado foi que a água se escoou enquanto eu dormia. Bolas.
Luís, olha, afinal nem que queira te posso dar água, ontem não rolhei bem o cantil, durante a noite ele estava tombado e a água foi-se.
Estavam na conversa, gostosa para o Luís que não abria mão da sua marosca eis que , diante dos olhos de ambos surge um rio dos muitos que percorrem os Dembos, com uma corrente límpida de água que a todos encheu os cantis e matou a sede de três dias de longas e penosas caminhadas pelas matas de Angola.
(Esta história foi-me contada pelo Luís, 1º cabo da minha secção, no dia 28 de Maio de 2011, e recriada por mim)
(Há quarenta anos que não vejo o Gouveia, decerto nunca veio às operações anuais, quem souber dele, diga alguma coisa)
José António da Silva Tavares
quarta-feira, 11 de maio de 2011
"Como eu entrei na guerra"
Não é a continuação das minhas memórias da guerra, mas apenas aproveitar o que o Júnior escreveu sobre a morte do nosso camarada Jorge António e acrescentar mais alguma coisa.
A 2ª parte da comissão, “prémio” dos senhores da guerra aos nossos êxitos no norte de Angola, esteve na origem das mortes inscritas no curriculum do Batalhão de Cavalaria 2909, das quais a do nosso querido camarada Jorge António foi a que mais me marcou, não só pela forma como ele perdeu a vida mas também porque em condições normais faltavam apenas dois meses para o nosso regresso.
É o que se diz "morrer com a praia ali tão perto".
O Jorge António morou ou era natural de Sacavém ou ali de muito perto.
Quando Cabo Miliciano em Sacavém, tive a possibilidade de alugar um quarto fora da unidade onde praticamente todas as noites trocava a minha farda pela roupa civil, pratica corrente de quem gostava de arriscar e adorava a noite.
Uma sobrinha da dona da habitação, de nome Manuela, que trabalhava numa pequena superfície comercial (tipo pingo doce em ponto pequeno) situada na parte alta de Sacavém, tinha, entre várias colegas, uma cujo nome não me recordo, que de vez em quando me desenfiava uns cremes para barba e uns desodorizantes que me via à rasca para pagar. A vida militar naquela altura era complicada…
Por partida do destino um dia, não mais de dois meses depois do acontecimento que vitimou o nosso camarada Jorge António, recebo uma carta dessa moça onde me pedia encarecidamente para lhe contar os pormenores relacionados com a morte do seu primo, assim como as condições em que se encontrava o corpo, de forma a que a família tivesse de facto acesso à verdade, pois as versões que lhe chegaram não eram coincidentes.
Como devem calcular fiquei completamente à rasca e sem saber como actuar fui ter com o Capelão, que depois de me ouvir e ler a carta, me aconselhou a relatar a verdade, deixando ao critério da minha amiga a divulgação ou não da minha informação.
Foi o que fiz. Dias mais tarde recebi uma nova carta a agradecer a informação.
Não cheguei a saber o que de facto foi dito aos familiares mais directos do Jorge António.
Paz à sua alma.
Clemente Pinho – Ex-Furriel Miliciano Mecânico Auto. C.Cav. 2692
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Atacamos ou comemos primeiro?
Começámos no trilho ainda mal se via. Percorremos primeiro o capinzal sob o habitual cacimbo noturno e depois entrámos na mata, aqui já acompanhados pelos inebriantes cheiros da floresta e pela orquestra das aves que, em cada madrugada, nos brindavam com seus inesquecíveis cantos.
A certa altura começámos claramente a ouvir o ruído característico da sanzala. Os passos tornaram-se mais cautelosos e o ritmo cardíaco aumentou abruptamente. E agora?
O pequeno-almoço tomado no quartel tinha sido leve por ser demasiado cedo, havia horas. E horas era o que o meu estômago já dava. Hesitei em dar prioridade ao ataque. Como todos tinham percebido que estávamos em cima do objectivo, mandei passar palavra, em voz baixa como de costume, a perguntar “atacamos ou comemos primeiro?”. Quando o passa-palavra ia para lá do meio da bicha pirilau, oiço uma voz em alto e bom som: “Eu quero comer já. Se morrer nesta (operação) morro de barriga cheia”. Irritadíssimo, mandei um porrrra!!! dirigido aquele alentejano de goela incontrolada e ordenei a saída do trilho para comermos.
Tudo nas calmas naquele início de manhã radiosa, como se estivéssemos na ponta de um morro e sem pressas de ir a parte alguma, como aqueles que romperam as botas comigo se lembram. Como ruído de fundo continuava o canto das aves. O falatório controlado da sanzala continuava, lá mais abaixo.
Terminado o "repasto" dei ordens para voltar ao trilho. Já de mochila às costas e a dar os primeiros passos….. sai um tiro! O vigia da sanzala, que vinha fazer o habitual reconhecimento do trilho, tinha disparado o chamado tiro de aviso.
A partir deste tiro a guerra era a sério e cada um sabia o que devia fazer. Aí vamos todos em corrida por aquele trilho abaixo, com palavras de ordem apropriadas, que dispenso de recordar. Quando chegámos ao objectivo já não vimos ninguém. Todos tinham fugido para se esconderem, quais perdigotos apanhados desprevenidos no ninho. Para trás tinham deixado os seus parcos haveres e as panelas ao lume com mandioca. Fizemos o que era suposto ser feito e regressámos.
Mas tenho que referir algo de fundamental. A partir do 1º tiro do IN, que aliás penso que foi único da parte deles, quem foi realmente o mobilizador das tropas foi o furriel Sá, o brasileiro. Embora ele não pertencesse ao meu pelotão fez parte daquela operação. Com efeito, com aquela voz de trovão com sotaque brasileiro, transmitia um enorme empolgamento às tropas em acção.
Devo a todos o sucesso da operação. Mas a actuação do furriel Sá foi decisiva.
Que será feito dele?
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Homenagem
Um deles assentou praça, tal como eu, o Silvestre,o Ferreira, o Borreicho, o Augusto e o Galante, (não sei se citei todos), Em Beja no R.I.3.
Fizemos parte do mesmo pelotão na recruta e depois, também no quarto pelotão da CCAV. 2692 do BCAV. 2909, comandado pelo camarada alf. mil. Carlos Dias.
Refiro-me ao primeiro cabo Jorge Manuel de Oliveira António, vitimado pela explosão de uma bomba aramadilhada, em 19.02.1972.
Foi um camarada de quem sempre gostei muito, era leal e amigo e sempre bem disposto.
Peço perdão, se estou a ferir a sensibilidade de alguém, ao citar o nome, mas tenho de dar a conhecer esta quadra que foi escrita pouco dias depois da sua morte e que permaneceu no segredo dos Deuses até hoje.
Ao Jorge António esta homenagem
António, amigo, irmão
Neste meu peito saudade
Filha da condenação
De tão nova eternidade
José Diogo Júnior
sábado, 30 de abril de 2011
FOTOGRAFIA DO ALMOÇO DE 1987

quarta-feira, 20 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
Histórias da nossa tropa
quarta-feira, 30 de março de 2011
"como eu entrei na guerra"
quarta-feira, 23 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
DUARTE SILVA, o Homem

Sobre o comandante Duarte Silva o João Vieira já escreveu que “era um herói, considerado um militar competentíssimo ….uma pessoa muito justa…, com grande dignidade e com um grande sentido do dever ... um militarão e isso significava exigência, disciplina…”
Concordo. Duarte Silva era um grande profissional, e muito exigente. Mas era também muito humano. Aliás, em conversa recente com o nosso capelão, Padre Carneiro, esta ideia foi igualmente acentuada.
Lembro-me que, quando estávamos no Grafanil como tropa de intervenção, um dos médicos ter trazido à conversa, à hora da refeição, que começaram a existir vários casos de “esquentamento”. Na altura o comandante fez qualquer comentário, que me passou despercebido. Mas numa das próximas formaturas Duarte Silva falou ao batalhão deste problema, alertando todos para a necessidade de usar “camisa-de-vénus” para evitar os esquentamentos. Acrescentou algo como “apenas por respeito às vossas mulheres ou futuras mulheres e aos filhos que possam vir a ter”. Lembro-me de ter pensado com os meus botões que este não era o comandante militar Duarte Silva a falar, mas sim um homem, um Homem profundamente humano, um “pai” que pensa na implicação futura das atitudes irresponsáveis dos seus jovens filhos.
Aqui fica uma faceta importante do retrato do Homem que, como comandante me coube em sorte na guerra. Ainda hoje penso que tive muita sorte.
domingo, 13 de março de 2011
“Furriel Gonçalves, o que se faz quando se passa por um superior?...”
Vem esta recordação a propósito do Pinho andar de candeias às avessas com o capitão Taxa Araújo.
Naquela época era normal o pessoal que ia para a tropa não gostar muito dos militares de carreira, porque considerados comprometidos com a guerra colonial e, por consequência com o regime. Isto nem sempre correspondia à realidade, mas era habitualmente interpretado assim. Além de que a cadeia de comando raramente é bem vista.
Eu não fugia à regra e também não gostava dos militares de carreira. Nem da exacerbada disciplina da Escola Prática de Cavalaria (de onde, por ironia, viria a sair uma das colunas fundamentais do 25 de Abril), embora a compreendesse num tempo de guerra, sobretudo quanto à preparação física e ao treino psicológico, fundamentais na guerra de guerrilha que nos esperava em África.
Vem isto a propósito do meu (também) abertamente difícil relacionamento com o capitão Taxa Araújo, comandante da nossa Companhia. Ambos nos tolerávamos, mas não nos suportávamos facilmente.
Uma vez, já não me recordo da data, mas ainda foi no Mucondo, passámos um pelo outro, na “parada” (o pequeno terreiro entre as messes, os quartos dos furriéis e a capela, no meio do qual estava hasteada a bandeira nacional).
Eu fiz a continência (cumprimento militar devido a um superior), mas o Taxa não correspondeu com a sua continência (resposta devida ao cumprimento de um subalterno).
Deixei passar (“ficas para a próxima”, pensei com os meus botões)…
No dia seguinte voltámos a cruzar-nos no mesmo terreiro. Passei por ele sem fazer continência. Mal nos cruzámos, eis um enorme berro:
- Furriel Gonçalves, o que se faz quando se passa por um superior????!!!!
- Faz-se a continência, meu capitão...
- Então porque não fez a continência????!!!
- Porque é dever do superior responder igualmente com uma continência, coisa que o meu capitão ontem não fez…
- !!!!!...
- Ora se o meu capitão não cumpre com a sua parte, eu não estou obrigado a cumprir com a minha…
E virei costas. Não vi mas deu para sentir que ele terá ficado surpreendido, pois não disse ai nem ui.
Da vez seguinte em que nos voltámos a cruzar, sentia-se no ar alguma tensão, mas fiz a continência, ao que o Taxa respondeu com a sua continência.
(Toma lá qu’é p’ra aprenderes, pensei, continuando o meu caminho sem me voltar…).
Na guerra também se põem os superiores “em sentido”, o respeitinho é muito bonito e deve ser recíproco…
Este foi apenas um episódio, apesar de, mesmo não gostando de militares de carreira e odiar a guerra, sentir grande respeito pelo capitão Taxa Araújo homem destemido, um guerreiro de enorme coragem, com um sangue frio invulgar perante o perigo e sempre desejoso do combate. E sabia também que não era nada fácil comandar um conjunto de uma centena de homens (num conflito no qual muitos estavam contrariados) e gerir a “estadia” de forma a trazê-los de volta para as suas famílias.
Não morria de amores pelo capitão Taxa Araújo e penso que ele também não gostava muito de mim. Mas respeitava-o profundamente e penso que ele também respeitava a minha maneira de ser e de pensar. Foi esse respeito que me fez arriscar naquela desafiadora atitude. Creio que ambos ficámos a ganhar.
António Gonçalves
quinta-feira, 3 de março de 2011
OPERAÇÃO CRATO!
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Almas Mutiladas
Foi escrito, talvez, há mais de 20 anos e fala já do mesmo tema.
Almas Mutiladas
Sou esse que nos campos trabalhou!...
E sou o que passou dificuldades!...
Fui à guerra, de que não tenho saudades,
Pois foi ela que minh'alma mutilou!
Nenhum poeta, em versos, isso cantou,
Embora escrevam tantas verdades
Na sombra, oculta, das grandes cidades
Onde a nobre poesia se finou!
Não esqueceram a razão, certamente...
Que a alma mutilou a tanta gente!
Nem que outros pagaram com suas vidas!...
Então, caros poetas de Portugal
Cantem, em verso, a verdade natural
Das almas mutiladas, tão queridas!...
José Diogo Júnior
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
"Como eu entrei na Guerra"
2ª Parte da Comissão
Intervenção - Luanda
Intervenção. Presente envenenado para premiar os “êxitos do batalhão no norte de Angola”, oferta dos senhores da guerra.
Aquartelados no Grafanil às portas de Luanda. Fomos creio que render o Xeque-Mate.
Cidade maravilhosa que nos acolhia cerca de dez a 15 dias por mês, com os restantes a serem passados de operação em operação no norte ou no leste de Angola, em zonas completamente desconhecidas, que iriam ceifar as primeiras vidas de amigos e camaradas do dia a dia.
Tendo em conta a minha função de especialista (aramista) e também porque tinha família em Luanda a situação não me desagradava de todo, pois de dia cumpria as minhas obrigações de militar e depois alinhava na noite como se de um civil se tratasse.
Não entrava nas escalas de serviços e ia vivendo o dia a dia tentando passar o mais despercebido possível mas, triste sina a minha, voltei a desafinar no seguimento de uma situação que entendi como uma sacanice do Taxa Araújo.
Se não estou em erro, a primeira operação foi para os lados do Bom Jesus. A saída da companhia foi numa quarta ou quinta-feira à noite e eu tinha voo marcado para a segunda-feira seguinte, pois ia de férias para o “puto”.
Uma prima minha casava no sábado e como era a único familiar, excepto os pais, que poderia estar presente no seu casamento, fui ter com o Capitão e pedi-lhe para ficar em Luanda de forma a estar presente na cerimónia.
Argumentei que não tinha qualquer problema nem receio de alinhar nas deslocações relacionadas com a intervenção e que apenas se tratava de uma situação de excepção por um motivo justificável.
Levar-me até era um favor que o homem me fazia, pois em Luanda os Sargentos e Oficias tinham que pagar a alimentação do seu bolso. Tratava-se apenas de uma situação especial.
A resposta do homem foi peremptória e até mesmo agressiva.
- Não senhor! A sua vida de aramista era no Mucondo. Agora alinha como os outros e vai de mecânico de coluna e, quanto às férias, fique descansado que não perde o avião.
Não perdi as férias. Perdi a cerimónia do casamento e a festinha onde por certo faria conhecimentos que me poderiam ser úteis em Luanda.
A partir daí comecei a andar de candeias às avessas com o Taxa Araújo.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Natal de 1970 na Fazenda Bombo
Lógico que aceitei e o 1º que meti na boca era autentica "pólvora" pois continha no meio malaguetas de piri-piri. E eu para não fazer parte de fraco resolvi comer até ao fim. Foi o meu azar. Fiquei com a boa a arder e não houve água, sumos, bagaço, wiskhy, etc que resolvesse tirar-me aquele ardor. Resultado: uma autentica bebedeira e uma dôr de cabeça monumental.
Como já era hábito os fazendeiros vieram ao nosso quartel na passagem do ano. Fizemos as nossas investigações e viemos a descobrir que a ideia das malaguetas foi do fazendeiro Resende, dono da fazenda onde nos íamos levar os géneros a uma secção doutra Compª.
Assim, sabendo que ele apreciava bananas, no jantar que nós oferecemos, no final foram-lhe servidas umas lindas bananas que, antecipadamente, tinham sido impregnadas de piri-piri no estado líquido. Quando ele começou a comer e notou o que lá havia sido injectado, virou-se para mim e disse: Foi voçê!
Não se tratou de nenhuma vingança, mas sim uma brincadeira.
Nota: Já agora, aproveito para ir lembrando, repetindo o que havia dito, que práticamente só os aramistas é que vão contando umas coisas. E o resto do pessoal está à espera de quê? Não tenham vergonha de ir contando algo de que se recordem, mesmo que seja coisa banal idêntica ao que acabo de apresentar.
Adelino Amaral, Vagomestre
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
"SUS-A-ELES"
Análise às dissertações sobre o tema “SUS-A-ELES” que o José Tavares publicou no blogue em Junho de 2010
Um pouquinho de tempo disponível permitiu-me efectuar uma leitura mais atenta às crónicas e outros artigos publicados no blogue, merecendo-me especial atenção o único que eu encontro da responsabilidade do José Tavares, que não posso deixar de comentar.
Como que numa lição à volta do “ SUS-A-ELES” o José Tavares fala em orçamento do estado, banquete, marquês de pombal, poder das bases e do povo, corrupção combatida, ensaio da cegueira, José Saramago, migalhas, tudo querem comer, vampiros, Zeca Afonso, eles comem tudo e não deixam nada, etc., etc. .
O que eu e os nossos camaradas não queremos esquecer é que “SUS-A-ELES” era o lema do Batalhão de Cavalaria 2909, que em Abril de 1970 partiu rumo a Angola passando a fazer parte da história de Portugal, que no melhor ou no pior temos que assumir.
Quantos e quantos de nós tivemos hipóteses de fugir e ou desertar? Quantos e quantos de nós poderíamos ter utilizado a possibilidade de continuar a estudar de forma a protelar o ingresso nas forças armadas? Ou quantos não tiveram nenhuma destas possibilidades e foram obrigados a ingressar nas fileiras e dar o corpo ao manifesto.
Devemos envergonhar-nos do nosso passado? Devemos esquecer e passar como que uma esponja sobre uma parte da nossa juventude?
Ou devíamos ter feito como alguns que apareceram depois do 25 de Abril arvorados em revolucionários, quando o que fizeram foi andar escondidos no estrangeiro de forma a garantir a sua segurança.
Que país é este em que os falsos desertores foram arvorados em heróis e os homens que sofreram na pele os horrores da guerra são considerados pessoas não gratas.
Diz também o Tavares na sua crónica que pretende falar sobre as suas memórias, sobre o Mucondo, Nanbuangongo e Santa Eulália.
Força Tavares. É isso que estou à espera desde Junho de 2010.
Os teus camaradas e as suas famílias não querem esquecer, não querem ser esquecidos e não têm vergonha da sua HISTÓRIA.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
ESQUECE!!!!!
domingo, 30 de janeiro de 2011
"Cumprimentar o Amaral"
Fiquei contente e por isso puxei pela cabeça e fui procurar uma foto nossa, que publiquei juntamente com o meu último capítulo, para te ajudar a avivar a memória.
Um abração do ferrugento.
"Como eu entrei na Guerra"

A única mulher que havia era a lavadeira, velha como ou caraças e desdentada, que não sei se acabou ou não por dançar. Mas toda a maçaricada que dançou, incluindo oficiais e sargentos, ainda hoje é capaz de jurar que dançou com uma mulher. Não há dúvida que os negros tinham um jeito muito especial para se vestirem de mulher.
Com o aproximar da noite começou a formar-se a coluna militar que iria levar todos os companheiros à fazenda.
De pé ao lado do condutor do unimog, de peito feito às balas lá ia eu farolinando à procura de vislumbrar os olhos dum veado ou duma pacaça, até que dei mesmo com eles e mandei parar a viatura.
Chegámos ao Bombo. Na altura eu não deixava as coisas em meio, fui ter com dito cujo e perguntei-lhe o que é que se tinha passado e qual a razão que o levou a ofender-me. Fiquei então a saber que havia possibilidades de estar preparada uma emboscada, tendo em conta indícios que a coluna que tinha vindo do Zemba com o correio tinha detectado.
"Como eu entrei na Guerra"
Capítulo 15 º
A rotação do descontentamento
Páscoa de 1971. Apenas estavam no aquartelamento os aramistas e alguns operacionais doentes ou com problemas físicos tipo esquentamentos, matacanhas, paludismos, preguiça, etc. etc.
Uma avioneta a sobrevoar o aquartelamento e a indicação de que a mesma ia aterrar, sendo necessário garantir a segurança à pista.
Iria ser o meu 3º contacto com o Comandante do Batalhão Tenente Coronel Duarte Silva.
Lembro-me como se fosse hoje. As palavras que proferiu ainda estão gravadas na minha cabeça e nem com o passar dos anos me consigo esquecer.
Todo o pessoal presente no aquartelamento, excepto os acamados e os sentinelas, formaram em frente ao refeitório dos soldados e foram estas as palavras do Comandante.
- “Fui chamado a Luanda ao Quartel General e graças aos êxitos do nosso Batalhão no Norte de Angola ofereceram-me a intervenção e eu, certo de que ia de encontro aos vossos sentimentos aceitei”.
De encontro a que sentimentos? Quem é que nos ouviu ou se importou com a nossa vontade? Que tristeza…
Foi um balde de água fria que caiu sobre a minha cabeça e da dos meus companheiros de armas, pois estávamos tão longe de pensar a traição que nos faziam. Não havia dúvida de que não passávamos de carne para canhão ao sabor dos interesses pessoais dos senhores da guerra.
Lembro-me de mandar destroçar todo o pessoal, que de cabeça baixa recolheu às suas instalações pois os destinos que sonhavam e que estavam em aberto para a segunda parte da comissão tinham-se esfumado.
Nesta fase fiquei de cabeça perdida e desalinhei por completo.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
"Como eu entrei na Guerra"
É Carnaval. A Guerra pode esperar...
Carnaval de 1971. Eu, o Gomes, o Leitão e Aragão Pinto resolvemos dar um pontapé na monotonia e providenciar uma cegada das antigas e brincar ao carnaval, matando assim saudades da nossa vida de civil.
"Como eu entrei na Guerra"
Capítulo 13º
Pinho e Pina Silva a aprenderem a tocar violaMotor de arranque não tinha e era posta a trabalhar de empurrão. A caixa de velocidades dava para enfiar algumas mudanças que arranhavam de tal ordem que até nos punham os cabelos em pé, travões apenas o de mão.
Escoltados por um pelotão da tropa de elite da C.Cav. 2692, arrancámos direitos a Quibaxe com a GMC devidamente engatada a uma das Berliet , através de uma lança de reboque.
Dentro da cabine, eu a conduzir e o Pina Silva como ajudante com a missão específica de accionamento do travão de mão, único acessório que funcionava mais ou menos embora com risco de incêndio, devido ao atrito nos calces de travões, lá conseguimos chegar sem sobressaltos de maior até à descida para o Dange.
Porque se tratava de uma zona com um declive muito acentuado tratei de prender um cabo de reboque a uma outra Berliet, que coloquei na traseira da GMC e atacamos a descida.
Com a GMC devidamente entalada entre as duas Berliet carregadas de companheiros de luta, fizemos no máximo uns quinhentos metros quando, para mal dos meus pecados, o cabo que aguentava a minha viatura se partiu e a pressão sobre a Berliet da frente foi de tal ordem que dobrou a lança e só não foi tudo morro abaixo porque num golpe de génio (sorte) consegui enfiar por debaixo da traseira da Berliet a frontaria da GMC e, ao fim de alguns metros de arrastamento conseguimos imobilizar-nos junto do precipício.
Deus esteve connosco naquele momento.
Fiquei sem pinga de sangue e a partir daí já nem o Pina Silva me quis acompanhar na viagem. Lembro-me que as pernas ainda me tremiam quando cheguei a Quibaxe e nem vontade tive para ir “mudar o óleo”, coisa que normalmente fazia sempre que ia ao Pelotão de Apoio Directo.
De facto a evacuação da GMC foi um risco mal calculado, que nos poderia ter saído muito caro.
Mas enfim, haja quem mande. Só nos resta obedecer.
E vai um faducho
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692