sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ESQUECE!!!!!

Há cinquenta anos, um acto de assalto a uma esquadra de polícia em Luanda "dava início" à guerra colonial...
Guerra colonial?! O que é isso?!
Não houve guerra!...
Quem andou no mato, em Angola, Moçambique, Guiné, nunca soube o que era a guerra!...
Guerra sim, só, no Vietname, ou no Golfo, ou no Iraque, ou no Afeganistão, ou na Sérvia ou Bósnia-Herzegovina... Como se quem morre, fica ferido, ou "simplesmente" sofre, tanto lhe fizesse estar num lado ou noutro...
Até os incidentes em Luanda, que deflagraram sim numa guerra civil mais intensa durante mais (demasiados) anos, é que eram guerra...
Guerra colonial? Ná!!!!
Quem lá andou andou apenas a divertir-se!...
Quem cá ficou é que viveu a guerra!...
Ou quem vivia lá - e muitas vezes fingiu ignorar a guerra - é que soube o que era a guerra!...
Bahhhh!!!!!!
Desculpem o desabafo, mas como muitas vezes dizíamos (ou pensávamos) debaixo de fogo, ou aos saltos nos unimogs, ou à sede, ou à chuva, ou à seca, ou ao inferno do calor, ou ao inferno do frio, ou com vontade de defecar e não poder, ou com vontade de urinar e não poder, ou com vontade de comer e não poder, ou com vontade de beber e não ter água, ou com vontade de andar e não poder passar as lianas, ou a lama, ou atravessar as lâminas do capim, ou com vontade de dormir e temer sequer acordar, ou adormecer e acordar coberto de formigas, ou "dormir" num leito de rio da chuva, ou ficar cheio de bolhas das pulgas matacanhas, ou cheio de comichão ao passar por debaixo do feijão-maluco, ou dar de caras com o "inimigo" e ter de matar para não ser morto, ou alternar operações com escoltas e estas com idas à lenha ou à água, ou ver, quando no aquartelamento, todos os dias as mesmas caras, a mesma paisagem, o mesmo horizonte, ou com saudades da família sem poder desabafar, ou invejando, nas noites do mato, estendidos no duro chão impregnado de raízes fluorescentes, os passageiros no interior daquele avião de que apenas se via a luzinha, lá bem no alto, atravessando o céu estrelado, desconhecedores do medo, do sacrifício da noite gélida e do combate do dia seguinte, referia eu que, como dizíamos ou pensámos naqueles momentos:
- PORRA DE VIDA!...
Hoje, já não há paciência para isso. Já ninguém se lembra. Parece até que nunca aconteceu. É caso para pensarmos: ESQUECE!!!!!!....
(para não empregar mais vocabulário vernáculo...)

4 comentários:

  1. Tens toda a razão Já ninguem se lembra...
    Se calhar ainda temos de pagar com rectoactivos
    ocruzeiro nos barcos da carne para canhão,já não
    chegou os três melhores anos da nossa vida em que
    muitas carreiras ficaram pelo caminho como agora
    até nos querem aumentar na idade de reforma(é por
    haver tanto desemprego) geração da casa paterna...

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  2. Esquece uma porra, como se diz em bom alentejano.
    A minha história em determinada altura confunde-se com a história do meu país no melhor e no pior. Isso nada nem ninguém me vai tirar da minha memória cem anos que eu viva. Tristes dos que se remetem ao silêncio por vergonha pois não têm um pingo de personalidade.

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  3. Oh Pinho, eu não me remeto ao silêncio, se fosse assim nem teria criado o blogue. O "esquece" tem outro significado: esquece a parvoíce e a ignomínia dos que nos querem esquecer, ou seja, desculpa os pobres de espírito...

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  4. Olá Gonçalves. Eu comprendi perfeitamente o espírito do teu "esquece". Comigo todos esses pobres de espírito estão chumbados pois eu não os deixar esquecer...

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