quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Como eu entrei na Guerra"

2ª Parte da Comissão

Intervenção - Luanda

Intervenção. Presente envenenado para premiar os “êxitos do batalhão no norte de Angola”, oferta dos senhores da guerra.

Aquartelados no Grafanil às portas de Luanda. Fomos creio que render o Xeque-Mate.

Cidade maravilhosa que nos acolhia cerca de dez a 15 dias por mês, com os restantes a serem passados de operação em operação no norte ou no leste de Angola, em zonas completamente desconhecidas, que iriam ceifar as primeiras vidas de amigos e camaradas do dia a dia.

Tendo em conta a minha função de especialista (aramista) e também porque tinha família em Luanda a situação não me desagradava de todo, pois de dia cumpria as minhas obrigações de militar e depois alinhava na noite como se de um civil se tratasse.

Não entrava nas escalas de serviços e ia vivendo o dia a dia tentando passar o mais despercebido possível mas, triste sina a minha, voltei a desafinar no seguimento de uma situação que entendi como uma sacanice do Taxa Araújo.

Se não estou em erro, a primeira operação foi para os lados do Bom Jesus. A saída da companhia foi numa quarta ou quinta-feira à noite e eu tinha voo marcado para a segunda-feira seguinte, pois ia de férias para o “puto”.

Uma prima minha casava no sábado e como era a único familiar, excepto os pais, que poderia estar presente no seu casamento, fui ter com o Capitão e pedi-lhe para ficar em Luanda de forma a estar presente na cerimónia.

Argumentei que não tinha qualquer problema nem receio de alinhar nas deslocações relacionadas com a intervenção e que apenas se tratava de uma situação de excepção por um motivo justificável.

Levar-me até era um favor que o homem me fazia, pois em Luanda os Sargentos e Oficias tinham que pagar a alimentação do seu bolso. Tratava-se apenas de uma situação especial.

A resposta do homem foi peremptória e até mesmo agressiva.

- Não senhor! A sua vida de aramista era no Mucondo. Agora alinha como os outros e vai de mecânico de coluna e, quanto às férias, fique descansado que não perde o avião.

Não perdi as férias. Perdi a cerimónia do casamento e a festinha onde por certo faria conhecimentos que me poderiam ser úteis em Luanda.

A partir daí comecei a andar de candeias às avessas com o Taxa Araújo.

Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692

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