domingo, 30 de janeiro de 2011

"Como eu entrei na Guerra"





Capítulo 16º



Apresentação dos maçaricos na fazenda do Bombo.



Para a recepção à nova fornada de carne pra canhão que nos vinha render, a Fazenda do Bombo preparou uma pequena recepção de boas vindas, com muita cerveja e whisky e um bailarico, em que a principal atracção seria o condutor Ramos com a sua concertina.


A única mulher que havia era a lavadeira, velha como ou caraças e desdentada, que não sei se acabou ou não por dançar. Mas toda a maçaricada que dançou, incluindo oficiais e sargentos, ainda hoje é capaz de jurar que dançou com uma mulher. Não há dúvida que os negros tinham um jeito muito especial para se vestirem de mulher.
Com o aproximar da noite começou a formar-se a coluna militar que iria levar todos os companheiros à fazenda.



No unimog da frente, o Capitão Taxa Araújo mandou instalar um farolim, dos que se usavam para a caça à noite e solicitou um voluntário para ir a farolinar, ou seja iluminar as margens da picada.



Quem se ofereceu? Eu pois claro.
Caçador afamado já até com algum curriculum (lembro-me que até já tinha uma pintura creio que no quarto do Justino a disparar contra um elefante). Hoje,tal como na altura, posso de facto afirmar que foi mesmo um elefante que eu vi na descida do Dange e ainda lhe atirei uma fogachada de G3.

De pé ao lado do condutor do unimog, de peito feito às balas lá ia eu farolinando à procura de vislumbrar os olhos dum veado ou duma pacaça, até que dei mesmo com eles e mandei parar a viatura.



O Taxa Araújo saltou logo da sua viatura (era um grande guerreiro aquele homem) e veio ter comigo para se inteirar da situação. Com o farol indiquei-lhe no meio do capim a peça de caça que nos poderia proporcionar um belo petisco na messe de sargentos e aluviar o orçamento ao Amaral.
O homenzinho passou-se dos carretos e aos berros só não me chamou de pai, de resto disse-me tudo como os malucos e mandou avançar a coluna o mais rapidamente possível.

Chegámos ao Bombo. Na altura eu não deixava as coisas em meio, fui ter com dito cujo e perguntei-lhe o que é que se tinha passado e qual a razão que o levou a ofender-me. Fiquei então a saber que havia possibilidades de estar preparada uma emboscada, tendo em conta indícios que a coluna que tinha vindo do Zemba com o correio tinha detectado.



Fiquei sem pinga de sangue. Ninguém me tinha dito o que passava e deixaram-me ir à cabeça da (manada) coluna de farol na mão, sujeito a ser o primeiro a levar um tiro no cabeçalho.
Jurei nunca mais me meter noutra. Voluntário só para passar à peluda.



Não há dúvida que o melhor era andar sempre desalinhado.






Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico. C. Cav. 2692

1 comentário:

  1. E o amigo Amaral sempre a meter a mão na fruta!...
    Coisas de Furriel vago-mestre...
    Um abraço
    Júnior

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