domingo, 2 de janeiro de 2011

2011 ANO NOVO...

Ano novo, vida nova, é o que costuma dizer-se a cada mudança de algarismos dos ciclos anuais.
Como criador deste nosso blogue espero que todos os actuais intervenientes ajam de forma a que cada vez haja mais participantes, para enriquecimento da memória colectiva, dos que lá andaram na guerra e dos que, novos ou velhos, certamente verão os seus conhecimentos alargados com essa experiência que possamos transmitir.
Como consta do Estatuto Editorial que redigi e submeti à consideração e aprovação (após alguns acertos provenientes de sugestões) de alguns dos participantes, o objectivo deste blogue é exactamente esse: não deixarmos cair no esquecimento nem na deturpação de factos um período tão marcante na nossa história contemporânea: a guerra colonial.
Guerra que alguns viveram, em que outros pereceram, em que outros vieram marcados para sempre, guerra que marcou as gerações posteriores, de forma mais ou menos notória, em que nunca mais nada foi o mesmo.
Guerra que alguns aproveitaram para, mesmo não a tendo vivido com a inclemência própria da sua natureza imbecil, estúpida e inexplicável, a aproveitaram para os seus próprios interesses.
Guerra que, podendo ter adjectivos acessórios, como "colonial", "do ultramar", "de libertação", não deixou de ser o acto insensato a que recorrem todos os que, com justificação de atitude ou não, a usam como forma extrema da imposição pela força, por muito forte que seja a razão que a pretende justificar.
Guerra que, findo o sue período de vigência "oficial", continua a corroer a sociedade que se viu submetida aos seus arbitrários ditames.
Guerra que transformou imberbes em homens e que transformou homens em cadáveres ou estropiados, ou deficientes, ou apenas (se assim se pode dizer...) ex-combatentes, todos mais ou menos traumatizados a que quase ninguém dá importância e que tanto incomodam quando começam a falar das suas (des)aventuras.
Guerra de balas, de armadilhas, de minas, de bombas, de sede, de fome, de frio gélido, de calor abrasador, de chuva, de seca, de selva, de lianas, de capim, de formigas carnívoras, de insectos estranhos, de águas lamacentas, de ração intragável, de medo, de coragem, de esperança, de desalento, de sonho, de desumanidade, de camaradagem, de abnegação, de solidariedade... Guerra estúpida como todas as guerras.
Mas guerra que criou laços de amizade entre muitas pessoas que, mesmo por vezes afastadas fisicamente, se mantêm unidas pela recordação do tempo em que, jovens, foram lançadas como carne para canhão para o lamaçal putrefacto do ódio treinado para matar e não morrer.
Alguns camaradas têm manifestado estranheza pela minha pouca participação activa no blogue, ou seja, por não verem mais textos ou imagens da minha parte (pelo que a mim diz respeito). A verdade é que, como atrás penso terá ficado implícito, ao criar o blogue baseado numa ideia do (furriel) Tavares, pretendia que a participação fosse tão diversificada quanto possível, para que ficassem os depoimentos não apenas de uma pessoa mas do maior número de pessoas que estiveram - directamente ou indirectamente, ou seja, combatentes ou familiares - na Guerra.
E continuo a defender tal princípio.
No entanto, informo que também vou tentar ser mais interveniente, nas limitações que ocorreram no meu trajecto de vida. As centenas de fotos e diapositivos que tirei (feito doido ou, no mínimo, certamente inconsciente do perigo) durante esses dois anos e dois meses de Angola - e que muitos felizmente tiveram a oportunidade de ver - perderam-se, para meu enorme desgosto.
O próprio diário que eu tinha também se perdeu.
Assim, a minha colaboração será não tanto através de relatos cronológicos mas de uma mistura da realidade com a ficção, pois nem sempre a memória nos permite identificar as datas e os nomes em que se registaram os acontecimentos vividos, talvez até porque a própria estupidez dos mesmos nos impulsiona, passados tantos anos, a apagar o acessório e a manter o essencial.
De qualquer forma, aqui fica a minha justificação para uma "ausência" notada por alguns camaradas e o compromisso de intervir regularmente de forma mais "visível". Porque de forma menos visível devo referir o meu trabalho na manutenção do blogue e da própria caixa de correio que lhe está adjacente.
Mas, vamos todos tentar arranjar mais participantes. Toda a gente sabe escrever, toda a gente sabe expor as suas recordações. Não se preocupem quanto ao estilo de escrita, quanto mais directo mais realista.
Um grande abraço a todos, uma recordação sentida de todos os que já nos deixaram e um fraterno cumprimento a todos os familiares.
ANO NOVO, VIDA NOVA. Esperemos que um ano melhor do que o que findou!... Com o sentimento que sempre nos acalentou nos piores momentos: a ESPERANÇA.

António Gonçalves



2 comentários:

  1. Meu caro foi com um enorme prazer que li o teu texto.
    Comungo da tua ideia "ano novo vida nova" e pela minha parte farei os possíveis para que este blogue alcance os fins para que foi criado.
    Penso quer a partir do nosso próximo almoço e com alguma informação de suporte se consiga unir as hostes. Um abraço do Pinho

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  2. Caro Camarada gostei imenso da tua prosa,julgo
    que realmente muitas das pessoas não avaliam o
    que a nossa geração passou porque as fotos que
    nós temos só mostram os bons momentos até parece
    que fomos fazer turismo.Quanto ao crescimento
    dos colaboradores,eu já tentei informar aqueles
    de que tinha contactos.
    Bom Ano são os meus desejos.

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