segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"Como eu entrei na Guerra"


Capítulo 12º


Emboscado na lixeira. A segunda aventura fora do arame.

Altas horas da noite na ferrugem, condutores , mecânicos, telegrafistas e outros aramistas, cantavam e pulavam ao som da sanfona do Ramos e do barulho ensurdecedor de ferros e latas, com muita cerveja, whisky e brandy à mistura. Havia alguém que fazia anos, não tenho presente quem. Eu não era de certeza pois vim sempre passar os meus ao “puto”, de férias claro.

É possível que tenham batido à porta. Com aquele barulho infernal só conseguimos aperceber-nos dessa situação quando começaram a querer deitá-la abaixo . Nessa fase já alguém gritava que batessem com os cornos e quando fomos ver quem era demos de caras com o Taxa Araújo que, devido ao barulho (o coitado estava com insónias) não conseguia pregar olho.

O Pinho indigitado para comparecer de manhã no gabinete do capitão e, como o mal estava feito a festa continuou até o sol raiar.

Resultado da ida ao gabinete. Uma emboscada à lixeira para essa noite em que participariam todos os aramistas presentes na farra.

E assim foi. Orientei as coisas para uma participação rápida no evento, pois duas noites sem dormir é que não dava, era areia demais prá minha camioneta.

Saímos a pé direitos à lixeira, não sem antes desligarem todas as luzes do aquartelamento, que só voltaram a acender depois de nos instalarmos devidamente à roda da lixeira. G 3 nas unhas, devidamente camuflados, de olhos postos no teatro de operações, em parte iluminado pelas cinzas do forno da padaria que o vento reacendia momentaneamente.

Ainda não tinha decorrido uma hora, perfeitamente de acordo com o previamente combinado, dei inicio ao conflito com uma rajada de G3, a que se seguiram outras igualmente programadas e um ou dois rebentamentos de granadas.

Passados 10, 15 minutos já tínhamos o Taxa Araújo e a sua tropa de elite, tal major valentão a perguntar “quantos são, quantos são”.

Claro que não era nada mas todos os aramistas confirmaram e juraram, ter visto qualquer coisa a movimentar-se na lixeira. Até podia ser um javali, quem sabe…

O Capitão nunca se convenceu mas o que é certo é que ainda não era meia-noite e a maior parte de nós já estava nos lençóis.

Alinhava, desalinhava. O que importava era que os dias iam passando e eu me ia divertindo conforme podia.



Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 26292

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