quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"Como eu entrei na Guerra"


Capítulo

(Antes de dar início a este capítulo importa referir que escrevi estas crónicas há muito tempo e estou a publicá-las com maior ou menor regularidade de forma a manter este espaço activo e visível, pois não estou a ver grande aptidão para a escrita a camaradas que decerteza também têm muito para nos contar)
Primo - Pinho - Alfacinha




A primeira aventura fora do arame.




Em Junho, praticamente mês e meio depois de chegar ao Mucondo, estava eu a cortar uma pedaço de bambu por detrás da capela, junto ao campo de futebol, quando comecei a ouvir muito ao longe tiros e estrondos que pareciam rebentamento de granadas. Como não podia deixar de ser corri a avisar o Capitão Taxa Araújo…
Fomos os dois até a extremidade do aquartelamento e de facto dava para perceber que a Fazenda Daladiata (penso que era assim o nome) estava a ser atacada, o que entretanto já estava a ser confirmado via rádio.

Metemo-nos os dois no jipe e fomos ao encontro de um dos nossos pelotões que estava a ajudar a desimpedir e reparar um antiga estrada que saía à direita do campo de futebol, junto à lixeira.

Lembro-me de que o banco do condutor estava a ser reparado e no seu lugar estava um caixote que eu ia empurrando com o pé para debaixo do traseiro do Taxa Araújo, tal eram os saltos e os balanços que a viatura dava à mercê duma condução completamente desenfreada.
Lá trouxemos a nossa tropa de elite e de volta ao aquartelamento para preparar o socorro à fazenda, lembro-me do Taxa Araújo perguntar ao sentinela que estava no torreão da entrada se a Polícia Rural já tinha passado e também se eu “aramista” queria ir em socorro da fazenda.

Não pensei duas vezes e foi só tempo de ir a correr ao meu quarto vestir o casaco camuflado e colocar por cima dos calções o cinto com os carregadores da G3, que por sorte não me esqueci de trazer.
E lá fomos por uma picada manhosa agarrados com unhas e dentes aos bancos das viaturas, que os condutores conduziam prego a fundo, com a devida segurança. Eram mesmos uns ases do volante estes guerreiros da estrada.

Nas proximidades da fazenda deparámos logo com um elemento da Polícia Rural estendido na caixa de um Land Rover , vítima de uma emboscada que estava montada para os primeiros que viessem em socorro da fazenda.

Há medida que nos íamos aproximando começamos também a encontrar cunhetes de munições por utilizar, granadas por rebentar, invólucros, testemunhos de uma traiçoeira emboscada que poderia ter sido para nós.

Ultrapassado o espanto inicial, não sei porque carga de água o Capitão resolveu correr mato a dentro à procura do inimigo, o que originou numa perseguição desenfreada que só acabou quando, completamente exaustos, nos deitamos por terra debaixo da ponte que fazia a ligação à fazenda.

Aproveitámos as águas do rio para tomar banho, alheios completamente ao perigo a que estávamos expostos, pois a zona era demasiado perigosa e propícia para uma emboscada bem sucedida.
Este combatente “aramista” fartou-se de correr pela mata que nem um maluco e ainda por cima de calções.

A vida de combatente começava a dar cabo de mim.
Foi assim que praticamente um mês depois de chegar ao Mucondo vi a primeira vítima mortal.

Comecei a ficar mais atento e alinhadinho que a coisa começava preta.



Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692




2 comentários:

  1. PINHO, Temos de concluir que tal como no Mucondo
    o blog só funciona graças aos aramistas.
    Se conheceres alguem da 2690 dá-lhe conhecimento
    do que se passou com o Gomes a que o gonçalves
    se refere.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. Vamos esperar que apareça alguém com mais iniciativa. Enquanto isso não acontecer vamos nós animando as hostes.
    Um abração

    ResponderEliminar