sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Nem todos os dias são iguais, nem todas as festas têm o mesmo sabor, nem todas as ocasiões se repetem, nem sempre os sentimentos se conjugam.
Há alguns anos atrás, o Natal para muitos (de nós) jovens era apenas um dia mais, no calendário da incerteza da guerra, um dia talvez em que nos sentíamos ainda mais tristes, disfarçando a tristeza numa cervejita com que humedecíamos a língua que mastigava o frango com massa (ou a massa com frango?).
Um dia em que ainda recordávamos, no silêncio apertado do peito, a família, a namorada, a mulher, os filhos, os pais, os avós, os irmãos, os parentes que, no trágico frio longínquo do "puto", se recolhiam, silenciosamente, no manto da saudade acre e incerta do desconhecimento da sorte que, nesse preciso momento, o filho, o namorado, o marido, o pai, o neto, o irmão, estaria a acontecer.
Um dia disfarçado de risos, com o coração dilacerado de saudade e (porque não dizê-lo abertamente?) do medo da morte mais do que provável. Ou, arredando a tão pior das hipóteses, do frio, do calor, da sede, da fome, dos ataques das formigas, da violentação da consciência que rege qualquer ser humano na preservação da paz, da solidariedade, da fraternidade?
Hoje, como ontem, com protagonistas diferentes e em cenários diferentes e diversos, o Natal continua a ser o alento de muitos na mesma caldeira onde fermenta o ódio, a discriminação, a intolerância, a exploração humana, que do Natal apenas guardam uma réstia de esperança num mundo melhor.
Que seja essa réstia de esperança que continue, apesar das dificuldades, a guiar o rumo dos que acham que a vida vale a pena ser vivida, com esperança, com fraternidade, com tolerância, com respeito por todos os seres vivos. Guardando, é certo, uma réstia também de saudade por todos os que, tendo partilhado o percurso da nossa vida, já partiram.
Um feliz Natal, agora que já não temos na meia a formiga, no sapatinho a G3 e no "gingle bells" o matraquear do fogo inimigo!...
A todos os camaradas, a todos os familiares, os votos de um Natal o melhor possível. A todos os que já partiram, um gesto de profundo respeito, de saudade, mas também de uma saudação forte de "PRESENTE"!
António Gonçalves

2 comentários:

  1. Olá Gonçalves um feliz natal para ti e para a tua família.
    Apreciei o teu texo e não dá para perceber a razão porque nos tens privado dos teus dotes literários.
    Não posso ser só eu a animar as hostes.
    Um abraço.

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  2. Olá Gonçalves
    Só hoje passei por aqui , com sorte por sinal, pois foi bom ler a tua mensagem de Natal, mensagem que partilho no seu conteúdo e realismo.
    Grato por tua mensagem sou também a enviar-te, e a todos os nossos companheiros do mato, os votos de umas Festas Felizes e de um Novo Ano pleno de novas realizações, amizades e sucessos. Um abraço do sempre amigo Tavares.

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