terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vida no Grafanil

Os tópicos que assentei num papel, num primeiro e rápido esforço de memória, das histórias que passaria para este blog, chegam rapidamente ao fim mas para hoje ainda lembrarei a nossa “vida” no Grafanil.
Como já lembrei uma das grandes preocupações era manter o pessoal ocupado. Não era fácil visto que no Grafanil não estávamos só nós. Estava o batalhão inteiro. De modo que depois da formatura das oito, uma das ocupações era, no bom tempo, ir à praia. Para isso havia uma ou duas berliets e uma praia, perto de Luanda, que estava reservada a militares e que se situava em frente da ilha do Mussolo. Sempre gostei de praia de modo que me ofereci para chefe dessa guerra, quantas vezes se me ofereceu, acompanhando os militares que também se ofereciam para esse esforço, quase sempre, como eu, originários de terras perto do mar. Não tinha concorrentes, coisa que me espantava imenso, mas a maior parte dos oficiais do batalhão ainda me agradecia por eu me voluntariar. Saíamos logo após o pequeno-almoço dos oficiais, que era depois da formatura das oito, e voltávamos por volta das onze horas. Estava assim gasta a manhã.
Lembro-me de em uma dessas manhãs estar a olhar para o céu, deitado na areia depois de um décimo mergulho, e surgir um helicóptero que começa a fazer evoluções entre o Mussolo e a praia onde nos encontrávamos e de repente ver desprender-se a asa pequena de trás e, no seguimento, o helicóptero destrambelhar-se por ali a baixo caindo no mar. Li depois que morreram todos os passageiros, oficiais sul-africanos cuja presença em Luanda tinha sido negada na véspera, em todos os jornais, como sendo mais uma calúnia.
Um outro grande acontecimento a partir do Grafanil foi a viagem que o Chaves, eu, o Sá e creio que o Pinho, de outras companhias fizemos num Volkswgem que o Chaves arranjou emprestado de um amigo e que nos levou em quatro dias, dados generosamente pelo comandante, a Nova Lisboa, Sá da Bandeira (Tundavala), Moçamedes, Lobito e Benguela. Mais de dois mil quilómetros mas bem dita viagem que ficou para sempre na memória! Tenho uma fotografia de um indígena, na serra que desce de Sá da Bandeira para Moçamedes, nesse tempo em estrada batida de terra, em que o dito indígena tem umas penas na cabeça, uma tanga, uma lança e o escudo e lembro o diálogo que com ele travei quando me aproximei com a máquina dos retratos na mão. Pôs o escudo em frente à cara e espreitando disse: – são cinquenta pau! Perante a minha indignação e o regateio que se seguiu lá consentiu em receber cinco pau e … foi um pau!

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