quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Regresso

A última história que me lembro da nossa “guerra”, depois de ter estado uns dias a pensar, é a do regresso. Fomos dos primeiros a utilizar os novos Boeings 707 que a Força Aérea comprou para transporte de tropas. E termos sido dos primeiros teve um preço! A nossa Companhia, que foi, se a memória está certa, a última a embarcar, quase um mês depois do que deveria ter sido, dirigiu-se toda lampeira para o aeroporto no dia aprazado, de onde, todos contentes, levantámos voo em direcção à almejada Lisboa. Apenas nove horas nos separavam do fim do que nos parecia ter sido um pesadelo. Mas o destino pregou-nos ainda uma partida. Pouco depois de levantar o avião começou a circular Luanda e o mar e como nós éramos uns desprezíveis passageiros, nada nos foi dito, continuando o avião a descer e a subir e às rodas sem se fazer à estrada! Até que, uns bons quarenta minutos depois, tornámos a aterrar em Luanda! Esperámos ainda dois dias para voltar a embarcar e, aí sim, virmos direitos para Lisboa!
Penso que, com esta memória, encerro a minha participação neste blog mas queria fazê-lo com uma espécie de declaração. Como ficou dito fiz tudo o que pude para “cumprir o meu dever” na forma que defini. Acho que uma das razões porque o fiz foi porque eu acreditava na utopia de que Portugal tinha a obrigação de “construir novos Brasis”, como a propaganda da época dizia. Há uns cinco anos voltei mais uma vez a Angola e vi, sem possibilidade de retorno, uma sociedade semelhante a um Brasil. Escrevi então num artigo que afinal tinha pertencido à “última geração” de portugueses que, ao longo dos séculos, defendeu, com armas na mão, uma ideia maior do que as nossas próprias forças, ideia essa, utopia que fosse, se concretizara, como tantas outras loucuras dos portugueses.

5 comentários:

  1. Caro João Vieira!
    Não posso, nem quero, acreditar que não tens mais histórias para contar, não obstante teres utilizado a tua "arma" em posição de rajada logo de início. Logo tu! Como bom atirador foste treinado para não gastar todas as munições de uma vez. Por isso fico à espera de um tiro, uma tirada, de vez em quando. Em última estância no próximo encontro alguns vão com certeza avivar-te a memória...
    Tenho que acrescentar que não só gostei das memórias, como me diverti à brava! Um abraço.

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  2. Obrigado pelo comentário: continuas um amigo!
    Um abraço

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  3. Dias já é altura de mostrares também a tua veia
    de contador de histórias.

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  4. Caro Vieira de facto ouve um pequeno que podía ser grande problema com o avião que nos transportou. Tenho essa situação bem presente na memória pois fui talvez uma das primeiras pessoas que se apercebeu da situação.
    Estavam precisamente a servir-me café e ao Pina Silva, quando apareceu outro membro da tripulação a segredar qualquer coisa ao do café
    e a pedir-lhe a suspensão da distribuição do mesmo. Lembro-me perfeitamente de dizer ao Pina Silva que algo se passava com o avião e que tinhamos voltado para trás. Confirmei-lhe a minha argumentação com o sol, pois quando levantámos voo estava a nossa direita e nos obrigou a correr a cortina e apresentava-se então pela esquerda. Passados instantes começamos a ver de novo a Baía de Luanda e confirmámos o inevitável regresso. Depois o resto é de facto voltas e mais voltas sobre o aeroporto,penso que para gastar o combustível, o que atrasou o nosso regresso a Lisboa, chegando já de noite quando era para se chegar de manhã. Um abraço do Pinho

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  5. Que bem que me lembro de vos receber em Figo Maduro!!!!

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