quinta-feira, 30 de setembro de 2010

À chegada ao Mucondo julgo que estávamos todos muito apreensivos desde logo porque à esquerda da porta de armas, porta que, naturalmente, não existia, situava-se um cemitério que nos fazia lembrar o nosso eventual próximo futuro.
Os primeiros dois ou três meses da comissão foram de uma enorme tensão por, creio, três razões: primeiro porque estávamos integrados num batalhão que, dizia-se, tinha um comandante que era uma fera e despachava “porradas” por dá cá aquela palha; segundo porque o “nosso” capitão tinha experiência de guerra da Guiné não parando de nos contar histórias absolutamente deprimentes para quem não era nenhum herói (emboscadas por todo o lado, minas a todo o momento, feridos, estropiados … eu sei cá). E foi nesse ambiente de enorme tensão (ou medo) que o capitão me mandou, creio que no primeiro dia da nossa chegada ao Mucondo, armar uma emboscada à “lixeira” que se situava pouco abaixo do citado cemitério. Lá fomos, não me lembro se com o pelotão inteiro ou apenas uma parte dele, e lá ficámos um bocado naquela escuridão a olhar tristemente para o cemitério iluminado pelas luzes do quartel.
A lixeira tinha uma fogueira aberta onde o lixo ardia lentamente. A certa altura ouviram-se uns estalos que imediatamente identificámos como um “ataque às nossas forças”. E foi assim que mandei disparar um dialagrama para cima do ponto de origem dos disparos (a lixeira). A granada explodiu devidamente, fez um cagaçal enorme e, logo de seguida nada se passou. É claro que isto tudo provocou um fenomenal alvoroço no quartel, que se julgou igualmente atacado. Lá regressados e depois de identificados os estampidos como cartuxos de balas abandonados na fogueira da lixeira que ardia fui, evidentemente, gozado, chamado de maçarico e tudo o mais. Mas escrevi no meu diário: - Não me ralei, mais vale prevenir do que remediar.

1 comentário:

  1. Olá caríssimo Joao Vieira!
    A ciência popular tabém diz Que: Um homem prevenido vale por dois.
    Um abraco

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