segunda-feira, 19 de novembro de 2012

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0003)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

TERRENO


RELEVO E HIDROGRAFIA
O terreno da ZA do Subsector é bastante acidentado e compartimentado por numerosos cursos de água que, duma maneira geral, os principais correm no sentido Norte-Sul.
A norte de Zemba destaca-se um maciço montanhoso situado entre os rios Suége e Cambo, onde nascem os rios Quihua, Cambo, Cacua, Lué e Passa e os seus respectivos afluentes.
Imediatamente a sul de Zemba há um maciço, Mufuque-1020 que, embora perto, é uma região de difícil acesso.
São em grande número os morros elevados com altitude até 1100 metros, que dificultam o acesso das NT a certas regiões e favorecem ao IN excepcionais postos de vigia e observação.
As restantes regiões do Subsector, de portas menos elevadas, constiturm as margens direitas dos rios Luica e Dange e o seu relevo orienta-se em vales mais ou menos encaixados definidos pelos leitos daqueles rios.

O rio principal da ZA é o rio Luica que vai desaguar no rio Dange, o qual limita a parte sul.

Os cursos de água que, pela sua regularidade de caudal mais interessa considerar, são:
- rio Lifune, no seu curso superior com uma orientação E-W
- rio Suége, afluente do rio Luica, com uma orientação N-S
- rio Dange, com uma orientação E-W
- rio Lulumba, afluente da margem direita do rio Dange
- rios Canzuele e Vuma, afluentes da margem direita do rio Luica
- rio Zungo, afluente da margem direita do rio Suége

O rio Luica, que segue duas direcções diferentes, podemos considerá-lo dividido em 4 ramos:
- o primeiro na direcção N-S é importante por constituir o limite intermédio deste Subsector com o Sector “UIG”
- o segundo, seguindo a direcção E-W, continua a servir de limite com o Sector “UIG”
- o terceiro, onde volta a ter uma orientação geral N-S, continua a servir de limite com o Sector “UIG” e é onde recebe as águas do seu afluente mais importante, o Suége
- o quarto, volta a ter a orientação E-W até à confluência com o Dange, continuando a servir de limite com o Sector “UIG”; é o troço do rio com menos interesse por ser de muito difícil acesso quer para o IN quer para as NT.

Nenhum dos rios do Subsector, com excepção dos mais importantes, constitui obstáculo natural ao movimento, quer do IN quer das NT, em deslocamentos apeados, embora o dificultem e limitem.
Quando não é possível a passagem a vau, um tronco cortado numa das margens e tombado sobre a outra resolve o problema.
É no entanto muito grande a influência de tantos cursos de água sobre os movimentos auto das NT durante a época das chuvas, dado que arrastam e destoem pontões, engrossam o caudal, não permitindo a sua passagem a vau e alagam as picadas vizinhas tornando-as intransitáveis a viaturas, cessando normalmente esta circunstância umas horas após o fim das chuvas pois o terreno seca rapidamente.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

FOTOGRAFIAS DO ATRAVESSAMENTO DE UM CURSO DE ÁGUA














(Fotografias cedidas por Dr. Joaquim Duarte Silva, filho do Comandante Duarte Silva)


NOTA COMPLEMENTAR

Nem sempre se conseguia atravessar à primeira. Era “apenas” uma questão de horas, muito esforço, muito suor, muita tensão e atenção a qualquer possível ataque…
Sublinhe-se que nem sempre as situações eram as que estão aqui retratadas. Esta deve ter sido uma operação a nível de batalhão, na altura do atravessamento de um ribeirito numa fazenda, pois normalmente não havia gente “estranha” aos militares. E também porque se vê nitidamente o Comandante Duarte Silva na operação. E então deitar abaixo uma árvore, para atravessar um curso de água, não era feito com moto-serras nem sequer com machados, mas sim à catanada, em que se despendia um extremo esforço e demorava “uma eternidade”.
Mas a situação mais comum era o atravessamento a vau, mesmo em sítios fundos, com fortes correntes e águas lamacentas.
O maior cuidado era tentar ter a arma acima do nível da água. Não porque a pólvora das munições ficasse inutilizada. Já eram outros tempos. Mas porque a água, sobretudo a água lamacenta, poderia reduzir a eficácia da arma, sobretudo a alma do cano (para quem andou na tropa sabe que a alma do cano é a parte interior, que tem as estrias e que deve estar sempre limpa, pois pode inutilizar um tiro ou até provocar danos no cano).
Já para não falar muito dos efeitos da água lamacenta nos corpos do pessoal. Porque o “vau” significava muitas vezes água até quase ao pescoço. Já estávamos “habituados” à pele encarquilhada… e convictos de que nunca haveria debaixo de água algum animal mais perigoso que um guerrilheiro inimigo que estivesse à espreita na margem.
Até porque, apesar de tudo, sempre era preferível ter “à mão” água lamacenta para beber do que respirar o pó da terra seca sem água no cantil…
Tínhamos que ser optimistas!...

(António Gonçalves – Furriel Atirador de Cavalaria do 3º Grupo de Combate da Companhia de Cavalaria 2692)

(CONTINUA)

2 comentários:

  1. Esta passagem de vala, o Gonçalves e eu presenciá-mó-la: foi na operação da comemoração do ano do batalhão em que se foi rezar uma missa no alto de um morro, longíssimo de tudo. O comandante nunca se encostava e portanto era ele que solucionava tudo com um gosto vizível. Lembro-me de pensar o contraste comigo que quando aparecia um obstáculo qualquer : árvore na estrada, vala para passar etc. Esperava sempre pelas opiniões dos artistas. Nesta passagem de vala presenciei todas as ordens do comandante incluindo as de polícia sinaleiro que aqui são visíveis..

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    1. Ainda há quem tenha a memória dos vinte anos! Mantem-te fiche, ó João Vieira!

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