sábado, 2 de junho de 2012

Almoço BCav2909 - 26 Maio 2012 - Homenagem comandante Duarte Silva

No passado dia 26 de Maio decorreu o almoço de confraternização, neste ano realizado ao nível do batalhão, por iniciativa de alguns camaradas, particularmente o Alberto Ferreira, de forma a poder ser prestada homenagem ao comandante Duarte Silva, na comemoração do 40º aniversário do regresso do batalhão de Angola, cumpridos que foram 26 meses de comissão.

Após a missa, na capela do cemitério do Espinheiro, em Évora, presidida pelo Padre Domingos Carneiro, à época capelão do batalhão, em memória dos caídos em combate e dos entretanto falecidos,
teve lugar, no mesmo cemitério, a homenagem ao comandante do batalhão, então tenente-coronel Duarte Silva, personalidade que, seja qual for a opinião pessoal que cada qual tenha de si, fica na memória de todos como um comandante totalmente empenhado na missão que lhe tinha sido confiada, honrando a sua opção de vida militar numa aliança de compromisso de trazer de volta os militares que embarcavam para uma guerra longínqua, em terras totalmente estranhas, apartados das famílias e desafiando um futuro tremendamente incerto.




Aqui fica o discurso proferido pelo então capitão, comandante da CCav2690, Furtado Dias.

Excelentíssimas Senhoras
Excelentíssimos Senhores, Familiares do General Duarte Silva
Companheiros Veteranos e Amigos
      No passado dia 17 de Março o Alberto Ferreira contatou-me para dar conta da realização do convívio do BCav 2909 e a data do mesmo.
         Nem sempre tive a oportunidade de estar presente nos vários convívios, pois estou nos Açores desde 1975, e ao fazer essa comunicação pensei que seria para me alertar com a devida antecedência.
          Mas a comunicação com Alberto Ferreira tinha outra mensagem. Era a comemoração dos 40 anos de regresso do nosso batalhão ao continente português e ainda uma outra mais importante – prestar homenagem ao nosso comandante, Tenente-Coronel Joaquim Miguel de Matos Fernandes Duarte Silva. Para tal tarefa eu era a pessoa indicada. Pensei de imediato: não faltarei. Mas respondi que dar-lhe-ia uma resposta em breve. Dois dias passados confirmava a minha disponibilidade.
Aqui estou a dar testemunho sobre aquele que “da lei da vida se libertou” mas que está sempre presente no pensamento e coração de todos nós, e neste testemunho tentarei interpretar o sentimento geral de todos aqueles veteranos do BCav2909 pois a sua postura perante todos nós marcou de forma indelével a sua personalidade.

Esse tempo vivido e partilhado connosco talvez desconhecido dos seus familiares atribuiu-me uma responsabilidade acrescida que espero corresponder e levar a bom termo a empresa.
            Retrocedo 40 anos e peço que me acompanhem no percurso que farei, percurso esse que de uma forma mais ou menos intensa foi partilhado por todos.
            No caso concreto de três capitães (Taxa Araújo, Cuco Rosa e eu) desde a nossa entrada pela primeira vez na EPC em 1966, para início do tirocínio, o nome Duarte Silva já andava no ar como uma referência de um “líder” apesar de na altura se encontrar ausente em Angola.


A partir de 1968, já presente na EPC, começou a haver um contacto mais direto, pois na altura o então Major Duarte Silva tinha regressado de Angola.
            Com espírito acutilante e sempre ativo impulsionou palestras sobre a guerra subversiva aproveitando não só a sua experiência e a de outros oficiais entre os quais 4 oficiais subalternos (Moura Borges, Matos Gomes, Taxa Araújo e eu) regressados de África para transmitirem conhecimentos a outros oficiais do QP que ainda não tinham tido essa experiência.
            A sua devoção ao Exército e Arma de Cavalaria guindava-o para ser considerado um excelente condutor de homens e com a sua experiência e no contacto que estabelecia ia transmitindo saber, profissionalismo, sentido de responsabilidade, honorabilidade, amizade, entre outros sentimentos, e naquele período que se viviam eram bem necessários e importantes.
            Em 1969 são promovidos ao posto de capitão 3 cursos de tenentes, o nosso incluído e 3 desses capitães foram mobilizados para o BCav2909 cujo comandante seria o recente promovido Tenente-Coronel Duarte Silva.
           A unidade mobilizadora foi, como todos se recordam, o Regimento de Cavalaria 3 e no final do ano de 1969 começou a articulação do que viria a ser o nosso batalhão.
            Posso testemunhar, porque estive muito perto do nosso Comandante e recebi dele várias missões e desde logo manifestou o seu exemplar empenho no planeamento para a formação e instrução do pessoal com vista a dar a máxima operacionalidade ao mesmo. Naquela altura já existia doutrina sobre a “guerra subversiva” mas ele com a sua experiência e alcance de visão foi mais além na preparação do batalhão.
            Todos, certamente, estão recordados dos exercícios finais da Serra de Ossa, com os treinos de reação à emboscada, à esquerda e à direita com balões de várias cores a servirem de alvo e executar-se esses exercícios com bala real, o que contribuiu para esgotar o stock de munições do regimento mas com este treino transmitiu autoconfiança a cada homem.
            Com tal preparação o que ele pretendia era dotar todos aqueles homens, com a capacidade para que cumprissem a missão e todos regressassem para junto das suas famílias. Essa era a sua responsabilidade e que era partilhada pelos seus capitães.
            Era palpável essa preparação e tanto assim foi que o Comandante do Regimento Coronel António Maria Rebelo, que tinha de avaliar a performance do batalhão atribuiu a classificação 1, a mais alta e talvez das poucas atribuídas a batalhões mobilizados.
            A proximidade de Estremoz a Sousel vem dar o contributo para que surja o lema do batalhão, “Sus! A eles!”, lembrando o grito dado pelo condestável Nuno Álvares Pereira para incentivar os seus combatentes à luta antes da batalha dos Atoleiros e do mesmo modo refletir-se nos homens do BCav2909.

Antes do batalhão embarcar no comboio com destino ao cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, este desfilou à noite pelas ruas de Estremoz com o nosso Comandante à frente.
            Saindo da barra de Lisboa o “Niassa” lá nos levou diretamente para Luanda onde nos esperava o nosso Comandante e o seu oficial de operações, Major Adão Batista.
            Do porto de Luanda para o Grafanil e deste para a área Militar 1 com destino a Zemba, fomo-nos separando, em primeiro a 2691 com destino a Cambambe, depois a 2692 para o Mucondo e por fim o comando, CCS e a 2690 para Zemba.
            
Aqui esteve o batalhão cerca de um ano e nesse período manteve uma intensa atividade operacional, tendo inclusive o nosso comandante participado em operações dando assim o exemplo aos seus homens.

            Durante esse período e por várias circunstâncias estive muito perto do nosso comandante e sentia as suas preocupações, as suas angústias, pois para ele era muito importante a coesão do seu batalhão.
            Aproximava-se o período normal de rotação e terá havido no pensamento de cada um de nós ideias sobre os possíveis locais de destino.
            Recordo-me da surpresa que foi ao receber-se a notícia de que o batalhão iria para Luanda para integrar as forças de intervenção do Comando-Chefe. São decorridos muitos anos para interpretar as reações a essa notícia mas a verdade é que o batalhão, portanto todos os seus elementos encararam o desafio com estoicismo e vontade de continuar a cumprir a missão.


O espírito de corpo, a disciplina incutida e que suscitou uma autodisciplina, a mentalização de uqe todos estavam imbuídos e que elevava a autoestima fizeram ultrapassar todas as dificuldades surgidas. Tal era a postura de todo o pessoal, que no período de descanso em Luanda a sua imagem era de tal ordem que o próprio Preboste fez referências elogiosas à postura dos nossos militares que se evidenciaram em relação a outras forças incluindo a da Polícia Militar.

       
       Julgo não ter dúvidas, mesmo havendo o contributo de todos, mas no fundo estava a marca do nosso Comandante.           
           A atividade do batalhão, a sua história, foi registada e condensada num volume retratando bem quanto foi o esforço despendido. Cada comandante de companhia recebeu um exemplar. O meu ofereci conjuntamente com dois exemplares de NEP’s, correspondente o 1º ao período da estada em Zemba e o 2º ao período de intervenção ao Museu Militar dos Açores, bem como outro material de interesse. 
            Não pesquisei, também não seria fácil, se em outros batalhões terão sido elaboradas NEP’s em situação semelhante à do nosso batalhão mas penso que não cometerei grave erro se disser que terá sido o único. Tal era a sua preocupação em levar as recomendações e orientações a todos os elementos, na procura do perfecionismo, que ao interiorizarem essas regras conduziam a uma autodisciplina que certamente terá servido para muitos, na altura ainda jovens, como referência nas suas vidas.









   Este HOMEM de que estou a falar tudo fez e conjuntamente com os seus comandantes de companhia e seus quadros, Alferes, Sargentos e Praças, para que o BCav2909 fosse honrado e considerado e acima de tudo todos aqueles que foram chamados a cumprir um serviço à Pátria regressassem às suas famílias com a consciência tranquila de dever bem cumprido.

     Com um HOMEM desta têmpera, senhoras e senhores e demias familiares aqui presentes, só podemos afirmar que estamos muito gratos por o termos tido como nosso COMANDANTE e manifestar o nosso maior preito àquele HOMEM que também tinha um sentimento muito forte do conceito de Família.




          O ato de colocar uma lápide em sua memória e iniciativa de elementos do BCav2909, a que todos se associaram, retrata bem o quanto eles manifestam o orgulho de terem sido comandados por esse HOMEM que, não está esquecido e permanecerá nos nossos corações.
            O nosso bem-haja à Família Duarte Silva por ter tido no seu seio um ente de tão alto valor.







Pelo nosso comandante…


“SUS! A ELES!”


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