segunda-feira, 23 de março de 2020

PAZ


Quando da nossa passagem por Angola, integrando a ccav. 2692 comandada pelo capitão Taxa Araújo, éramos todos muito jovens e sem experiência de comando, todos tínhamos sido educados a obedecer mas não aceitávamos de bom grado aquela disciplina militar que nos era imposta de uma forma rígida. No entanto hoje somos muitos os que achamos que essa disciplina foi, talvez, a grande responsável de ainda andarmos por cá.
Também víamos a cara do nosso comandante, mas nunca procuramos ver o seu coração, nem ele nos deixava ver, só mais tarde apreciamos o grande comandante que tivemos.
No meu caso concreto só 20 anos mais tarde me vi numa situação de "comando" e foi aí que recorri a alguns ensinamentos da vida militar e particularmente do personagem Taxa Araújo. Mais tarde e sentindo-me um pouco atraiçoado por alguns a quem ajudei de uma forma que eles talvez não tenham entendido, escrevi este poema, que o nosso comandante já não poderá ler, mas eu penso, que ele algumas vezes tenha sentido tristeza pela nossa falta de entendimento quanto à sua rigidez.


PAZ

Aqueles que dizem não gostar de mim
Não sabem quem eu sou, nem o que sinto,
E que perante a minha dor dizem que minto
São as ervas daninhas do meu jardim.

Habituei-me a vê-los sempre assim!...
Sonham fartura, veem-me faminto...
Eu fujo dessa vaidade, pois pressinto
Uma boa monda e um triste fim.

Para que cresçam flores sãs e belas
É preciso amor e tratar delas
Num jardim solidário e eficaz.

Jardim sem invejas, onde cada flor
Seja a liberdade,  um verso de amor
E a monda seja a própria PAZ.

José Diogo Júnior

1 comentário:

  1. Sempre com a poesia cheia no coração e transbordante da alma. Abraço, camarada.

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