domingo, 10 de março de 2013

HISTÓRIA DO BCAV 2909



BCAV 2909
HISTÓRIA DA UNIDADE
(CONTINUAÇÃO)
(02.0016)

SITUAÇÃO GERAL (continuação)

INIMIGO

CONCLUSÕES

POPULAÇÃO CIVIL

 Aspecto humano

- População
A população existente na ZA resume-se ao núcleo já indicado quando se tratou das povoações.

- Grupos étnicos
Europeus: A população branca está reduzida aos comerciantes e funcionários das Fazendas de café já recuperadas.
Africanos: Neste momento apenas existem populações apresentadas em Cambamba (cerca de 900 indivíduos) e em Zemba (12 indivíduos).
Pode-se afirmar que de uma maneira geral a área do Sub-sector ZBA é ocupada por Luangos e Bahungos.
LUANGOS
Gozavam de fama de activos, trabalhadores e inteligentes. Entre eles não existia a escravidão, embora empregassem nos campos escravos Bahungos que compravam. Entre eles existiam excelentes carpinteiros. Os cadáveres dos chefes indígenas não desciam à tumba logo após a morte. Os ritos funerários demoravam por vezes alguns anos. O corpo era fumigado e envolvido em numerosos panos cujo volume era indicativo da estima do povo e da categoria do chefe.
Após ter sido mumificado, o cadáver era exposto em praça pública.
BAHUNGOS
Desconhece-se de onde vieram os Bahungos. Aliaram-se por diversas vezes aos portugueses para lutar contra outras tribos.
Resistiram sempre à pressão dos Baxicongos, que os pretendiam escorraçar para sul.
São bem constituídos, corajosos, coléricos e impulsivos.
Têm os olhos ovais, cabelos pretos e encarapinhados.
A base da alimentação é vegetal, constituída pelo “quipati”, feito de farinha de mandioca e de milho, acompanhada algumas vezes de carne.
Cultivam a mandioca, milho, feijão e “ginguba”.
Pescam e caçam. Estes povos foram geralmente tidos como muito atrasados em relação aos grupos étnicos vizinhos.
Consta que praticavam a antropofagia, principalmente entre os feiticeiros.
                       
- Modos de vida
A não ser a população apresentada que vive em Cambamba e trabalha nas suas “tongas” e lavras, e os elementos que vivem em Zemba e trabalhadores das fazendas, a restante vive na ilegalidade sem contacto com qualquer autoridade constituída, não tendo modos de vida definidos.
Antes dos acontecimentos de 1961, notava-se a tendência de movimento populacional do campo para a acidade.
Nas populações apresentadas o regime sucessório de todos os chefes indígenas é de natureza matriarcal: o sobrinho sucedia ao tio. Cada sanzala tem um chefe “sobeta”. Duas ou mais sanzalas constituem um povo subordinado a um “soba”.
Acima dos “sobas” há os “regedores”, os quais, juntamente com os “sobas” e “sobetas”, constituem o elo de ligação entre a massa nativa e as autoridades administrativas. A estas autoridades gentílicas compete resolverem as questões surgidas na vida quotidiana, consultando por vezes o conselho dos velhos.

- Línguas e dialectos
Os nativos apresentados e os capturados falam o “kimbundo”. Sabe-se no entanto que a maioria dos nativos refugiados nas matas fala “português” aprendido no contacto com os brancos antes dos acontecimentos de 1961. Sabe-se mais que as escolas que funcionam nas matas são em “português”.

- Religiões, crenças e seitas
Duma maneira geral todo o nativo é tradicionalmente religioso e crente.
Antes dos acontecimentos de 1961 quase toda a população professava mais ou menos a religião católica ou protestante conforme a religião das Missões que ficavam mais perto dos locais em que vivia.
Deste facto resultou a existência de uma maior percentagem de indivíduos que seguiam a religião protestante, percentagem que ainda hoje se mantém entre as populações que vivem nas matas.
O IN dá muita importância às práticas religiosas, delas se servindo como arma de acção psicológica junto das populações que domina ou apoia, com vista a que estas suportem com resignação a situação miserável em que vivem e mantenham vivo o fogo sagrado de uma hipotética independência.

(Extraído do relatório do Comandante Duarte Silva, depositado no Arquivo Histórico Militar – Lisboa)

CONTINUA)

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