É Carnaval. A Guerra pode esperar...
Carnaval de 1971. Eu, o Gomes, o Leitão e Aragão Pinto resolvemos dar um pontapé na monotonia e providenciar uma cegada das antigas e brincar ao carnaval, matando assim saudades da nossa vida de civil.
Às escondidas, na ferrugem, adaptámos uniformes, capacetes e até o próprio jipe de acordo com os figurinos da PM (Polícia Militar) com a intenção de aparecer de surpresa à entrada da porta de armas do Mucondo como autênticos polícias militares, com objectivos devidamente definidos.
Tendo em conta as possíveis reacções do Taxa Araújo, preparamos também um uniforme à maneira para o Passarinho (condutor do Jipe), a única pessoa para além do capitão e de mim (eu só com a placa de avariado ou instrução) que podia conduzir a viatura, de forma a evitar alguma penalização para a nossa ousadia.
Mal nos situámos à entrada da porta de armas solicitámos que fossem informar o Capitão que a Polícia Militar estava à entrada do aquartelamento e, momentos depois, apareceu-nos o Taxa em passo acelerado, que só diminuiu quando se apercebeu da entidade dos valorosos PMs. que, sem escolta, se aventuraram desde a oficina da ferrugem até à porta de acesso ao aquartelamento (50 metros).
A primeira reacção do homem foi fazer “sangue” mas depois, mais concentrado e talvez porque um dos participantes da cegada era um dos seus meninos bonitos, engoliu em seco, transformou o sorriso amarelo num outro mais apresentável, achou graça e alinhou na brincadeira.
Entretanto e para compor o divertimento alguns camaradas vestiram-se de mulher e parodiaram as famosas zaragatas entre prostitutas, chulos, marujos e soldados, com cabeças partidas, ligaduras, fardas rasgadas que nos obrigaram a intervir fazendo algumas “detenções”.
Lembro-me que acabámos com uma moça negra, quem nem sei donde apareceu, sentadinha no jipe e que nos vimos aflitos para fazer sair, pois adorou andar de cu tremido encima da viatura.
Foi uma tarde memorável, em que graças as umas simples modificações e boa disposição conseguimos que uma companhia inteira esquecesse as agruras da guerra e festejasse um Carnaval à maneira.
Presto a minha homenagem a todos os companheiros que me acompanharam e participaram nesta cegada, pois só com a sua colaboração se conseguiu atingir o objectivo previamente definido.
Divertir, divertir, divertir…
Já noite avançada consegui recolher aos meus aposentos com uma camada de tal ordem, que me custei a convencer que estava na guerra.
Se isto era desalinhar?
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692
A utilidade deste blogue está à vista: não me lembro desta história engraçadíssima. Quem era o "menino bonito do capitão?" Não tenho ideia que tivesse.
ResponderEliminarUm abraço e parabéns porque tenho gostado muito de ler os capítulos: o intervalo entre eles é que é excessivo, face à curiosidade de ler os capítulos seguintes.
João Vieira
Parabéns, Pinho, pelas memórias que nos tens apresentado.
ResponderEliminarConcluo que os relatórios sobre o moral das tropas foram incompletos, ao ignorarem estas iniciativas. Pena que não tenha sido possível esta cena ter sido apreciada por toda a maralha.
Concluindo: Fizeste muitíssimo para elevar o moral das tropas. Também por isto mereces a minha (nossa) gratidão.
Depois de ler os comentários do Vieira e do Dias
ResponderEliminarpenso que ambos terão algo que devem partilhar
Principalmente o Dias está muito perguiçoso...
Um abraço, e não deixem morrer o blog.
Dou os meus sinceros parabéns a quem tem memória previlegiada, neste caso presente, ao Pinho, que mais parece que de "alentejano" não tem nada.Reforço aquilo que o Gomes diz no que se refere ao pessoal que vai escrevendo no Blog, que se tem circunscrito a meia duzia de comentadores. Onde é que estão os outros?. Basta ver o considerável nº. de visitantes, para dá se tirar uma ilação. Pessoal apareçam e vão contandoas vossas histórias. Prometo dentro de dias contar mais alguma coisa.
ResponderEliminarUm abraço - Amaral