Capítulo 15 º
A rotação do descontentamento
Páscoa de 1971. Apenas estavam no aquartelamento os aramistas e alguns operacionais doentes ou com problemas físicos tipo esquentamentos, matacanhas, paludismos, preguiça, etc. etc.
Uma avioneta a sobrevoar o aquartelamento e a indicação de que a mesma ia aterrar, sendo necessário garantir a segurança à pista.
Iria ser o meu 3º contacto com o Comandante do Batalhão Tenente Coronel Duarte Silva.
Lembro-me como se fosse hoje. As palavras que proferiu ainda estão gravadas na minha cabeça e nem com o passar dos anos me consigo esquecer.
Todo o pessoal presente no aquartelamento, excepto os acamados e os sentinelas, formaram em frente ao refeitório dos soldados e foram estas as palavras do Comandante.
- “Fui chamado a Luanda ao Quartel General e graças aos êxitos do nosso Batalhão no Norte de Angola ofereceram-me a intervenção e eu, certo de que ia de encontro aos vossos sentimentos aceitei”.
De encontro a que sentimentos? Quem é que nos ouviu ou se importou com a nossa vontade? Que tristeza…
Foi um balde de água fria que caiu sobre a minha cabeça e da dos meus companheiros de armas, pois estávamos tão longe de pensar a traição que nos faziam. Não havia dúvida de que não passávamos de carne para canhão ao sabor dos interesses pessoais dos senhores da guerra.
Lembro-me de mandar destroçar todo o pessoal, que de cabeça baixa recolheu às suas instalações pois os destinos que sonhavam e que estavam em aberto para a segunda parte da comissão tinham-se esfumado.
Nesta fase fiquei de cabeça perdida e desalinhei por completo.
Clemente Pinho. Ex-Furriel Mecânico Auto. C.Cav. 2692
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