Outro levantamento de rancho?
Há uma outra história armazenada na minha memória que não sei já se se passou como eu vou contar ou se eu a ficcionei. O que garanto é que o que eu pensei é tal e qual o que vou descrever. Todos os dias, naturalmente, havia um oficial de dia e um furriel de dia do mesmo pelotão do oficial. A tarefa era muito simplificada porque, no fundo, consistia em assistir às refeições do pessoal e andar por ali com braçadeira na manga com ar de inspector. O pequeno-almoço era antes da formatura das oito, talvez às sete e meia, já não sei. Sei que eu, como oficial de dia, e estando o capitão na cama, como estava até às oito, raramente, ou quase nunca, assistia ao pequeno-almoço, ficando a tarefa para o Justino ou o Gonçalves. Um dia, dormindo ainda, o Justino apareceu no quarto dos oficiais e disse-me: o pequeno-almoço está uma porcaria e o pessoal não o quer comer. Ora eu estava em falta, não estava no refeitório, o capitão, nessa altura, e provavelmente durante quase toda a comissão, gostaria de ter tido a oportunidade de me dar uma “porrada”. Um levantamento de rancho é, na disciplina militar, uma coisa gravíssima. De modo que fui com o coração nas mãos enfrentar o pessoal esfomeado. Chegado ao refeitório sem inquirir absolutamente nada do estado da comida, dirigi-me a cada uma das mesas e perguntei individualmente: já comeste? E fosse qual fosse a resposta dizia: podes sair ou come se tens fome. Não sei porque milagre em cinco minutos estava tudo fora e às oito lá estavam na formatura. Julguei-me muito habilidoso e respirei de alívio.
Sem comentários:
Enviar um comentário